São Paulo – A entrada do senador Flávio Bolsonaro no debate sucessório de 2026 e o apoio público do governador Tarcísio de Freitas ao parlamentar alteraram, em poucos dias, o humor dos investidores. O Ibovespa recuou cerca de 4,5% em um único pregão e as taxas de juros futuros avançaram quase 60 pontos-base, movimento que expôs a fragilidade do rali acumulado pela Bolsa nos últimos meses.
Gestores lembram que, até setembro, a valorização de ativos brasileiros se apoiava quase exclusivamente no fluxo estrangeiro para mercados emergentes. O descolamento positivo do Brasil em relação a outros países só veio entre outubro e novembro, quando discursos de Tarcísio ganharam força e a sucessão presidencial passou a influenciar preços.
Para Marcos Peixoto, sócio e portfolio manager da XP Asset, o entusiasmo político se formou cedo demais. Ele afirma que, no início de 2024, a alta da Bolsa “foi zero política e cem por cento externa”, mas, nos dois meses seguintes, parte do avanço já refletia a expectativa de uma transição organizada à direita. Com a possível candidatura de Flávio Bolsonaro, esse quadro precisou ser revisto.
Peixoto observa que tentar operar eleições com tanta antecedência envolve baixa previsibilidade. Até meados de 2025, segundo ele, “muita água ainda vai passar” e a probabilidade de acertar o resultado eleitoral é reduzida. O episódio recente mostrou, diz o gestor, que narrativas são criadas e desfeitas rapidamente, levando a movimentos bruscos nas cotações.
Embora a correção de 4% tenha sido ruidosa, Peixoto a classifica como devolução de ganhos obtidos dias antes, sem alteração estrutural de cenário. Mesmo assim, a relação risco–retorno, em sua avaliação, já não é tão favorável quanto no começo do ano: a Bolsa está cerca de 30% mais cara e os juros reais continuam elevados.
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Nesse contexto, a XP Asset mantém aproximadamente 20% do portfólio em caixa, evitando posições direcionais grandes. “Não é que a Bolsa esteja cara, mas deixou de ser óbvia”, resume o gestor.
Peixoto recorda que o mercado financeiro tende a exagerar reações em períodos eleitorais. Para ele, compreender a psicologia dos agentes é tão importante quanto analisar fundamentos econômicos. Mesmo com o apoio de Tarcísio a Flávio Bolsonaro, o gestor vê múltiplos desfechos possíveis, desde o avanço do próprio governador até outras composições na direita.
Diante da magnitude da incerteza, Peixoto prefere esperar definições antes de tomar decisões relevantes. “Eleição envolve eventos inesperados”, diz. Por ora, o diagnóstico é claro: a euforia deu lugar a cautela, e o rali recente mostrou-se dependente de expectativas políticas ainda voláteis.