Os projetos de construção de data centers no Brasil estão suspensos desde maio, quando o Ministério da Fazenda apresentou a Medida Provisória 1.318/2025, que cria o Redata, regime especial de isenção de impostos federais para o setor. A informação é da Associação Brasileira de Data Center (ABDC), que atribui a paralisação à indefinição sobre a votação da proposta no Congresso.
Segundo Luís Tossi, vice-presidente da entidade, “os grandes investimentos aguardam a aprovação dos benefícios, enquanto outros países já oferecem incentivos e capturam recursos”. Ele cita o RIGI, programa argentino que concedeu vantagens fiscais a um projeto de US$ 25 bilhões (R$ 136 bilhões) da OpenAI e da Sur Energy para instalar um data center de 500 MW na Patagônia.
Além da demora na tramitação do Redata, empresas reclamam da Resolução 780 da Anatel, que passou a exigir certificação e homologação obrigatória para equipamentos de data center conectados a redes de telecomunicações. Entidades do setor argumentam que a medida eleva custos e não tem paralelo em outros países.
Com a combinação de incertezas, apenas anúncios pontuais de centros de menor porte ocorreram em 2025. Entre os poucos projetos relevantes, o TikTok comunicou investimento de 300 MW no Complexo do Pecém (CE), com aporte inicial de R$ 200 bilhões, beneficiado pelo regime das Zonas de Processamento de Exportação.
Levantamento da ABDC mostra que o país possui 163 data centers, majoritariamente de pequeno porte. Para efeito de comparação, os Estados Unidos operam 5.381 instalações, a Alemanha 521, o Reino Unido 514 e a China 449. Analistas estimam que o Brasil poderia atrair cerca de R$ 60 bilhões em novos investimentos nos próximos quatro anos, caso o ambiente regulatório fosse definido.
O governo tentou incluir o conteúdo do Redata no Projeto de Lei 2.338/2024, que estabelece o marco regulatório da inteligência artificial e já passou pelo Senado. Relator da matéria na Câmara, o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) não apresentou seu parecer em novembro, em meio a atritos entre o Planalto e a Casa.
Imagem: redir.folha.com.br
De acordo com interlocutores do Executivo, ainda há expectativa de que o relatório seja entregue nas próximas semanas. Contudo, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), indicou que a votação antes do recesso parlamentar é improvável, o que aumenta a pressão para análise direta da MP 1.318, que perde validade se não for apreciada a tempo.
O projeto de IA também enfrenta divergências sobre pontos como direitos autorais em dados usados para treinar modelos e a definição de listas de aplicações de alto risco. As grandes plataformas digitais defendem listas taxativas, enquanto o texto original propõe caráter exemplificativo, permitindo atualização pela futura autoridade reguladora.
Ambientalistas e parte da bancada de esquerda criticam o Redata pelos altos consumos de água e energia dos data centers. O governo incluiu exigências de uso de energia renovável, oferta mínima de 10% da capacidade ao mercado interno e metas de eficiência hídrica como contrapartida para acesso aos incentivos.
Enquanto o impasse persiste, empresários afirmam que os recursos previstos para novas instalações continuam retidos, à espera de clareza tributária e regulatória.