Porto Alegre – A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) estima que até 140 mil postos de trabalho no estado podem ser afetados pela tarifa de 50% imposta pelo governo dos Estados Unidos sobre a maior parte dos produtos brasileiros. Segundo a entidade, 85,7% das exportações gaúchas ficaram fora da lista de quase 700 itens isentos anunciada nesta sexta-feira (1º).
“As empresas precisarão de fôlego para se manter. Enquanto essa tarifa vigorar, terão de buscar novos mercados ou se voltar ao mercado interno”, afirmou o presidente da Fiergs, Claudio Bier, em entrevista coletiva.
A federação, juntamente com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), pretende pedir ao governo federal a adoção de medidas trabalhistas semelhantes às aplicadas durante a pandemia e após as enchentes de maio, como suspensão temporária de contratos, redução de jornada e salários e férias coletivas.
“Essas saídas têm prazo curto. Se não houver apoio rápido e efetivo, veremos um aumento expressivo do desemprego”, alertou Guilherme Scozziero, coordenador do Conselho de Relações Trabalhistas da Fiergs.
O governo estadual previa perda de R$ 1,9 bilhão no Produto Interno Bruto gaúcho; após a divulgação da lista de exceções, a projeção caiu para R$ 1,5 bilhão. Para mitigar os efeitos, o governador Eduardo Leite (PSD) anunciou a liberação de R$ 100 milhões em crédito para empresas exportadoras a partir de segunda-feira (4). A Fiergs pleiteia que o valor seja, no mínimo, duplicado.
O segmento metalúrgico lidera a lista dos mais vulneráveis: em 2024, exportou US$ 324,9 milhões aos EUA, 35,8% das vendas externas do setor. Entre os produtos afetados estão caldeiras, tanques, facas, latas e ferramentas de serralheria, forja e funilaria.
Na Taurus, maior fabricante nacional de armas, 85,9% da produção (cerca de US$ 170,2 milhões) têm como destino o mercado norte-americano. O setor de máquinas e materiais elétricos enviou US$ 114,6 milhões (42,5% do total) para os EUA, enquanto o polo calçadista destinou 19,4% da produção – US$ 176,2 milhões – ao país.
Imagem: Lula via redir.folha.com.br
Bier ressaltou que redirecionar essas vendas não é tarefa rápida. “Não se constrói um mercado exportador do dia para a noite”, disse, defendendo a intensificação do diálogo diplomático com Washington para evitar retaliações que possam encarecer produtos importados pelo Brasil.
O dirigente também manifestou preocupação com a imprevisibilidade do governo Donald Trump. “Precisamos de paciência e muito diálogo para não elevar ainda mais a tensão”, declarou, evitando comentar os motivos políticos alegados pelos EUA para o aumento tarifário.
A indústria gaúcha encerrou 2024 com crescimento de 0,6% após um ano marcado por paralisações e problemas logísticos causados pelas enchentes. Agora, teme ver esse avanço comprometido pelo novo cenário externo.
Com informações de Folha de S.Paulo