Setores industriais brasileiros iniciaram contas sobre o impacto da sobretaxa de 50% que os Estados Unidos passarão a aplicar a partir de 6 de agosto, conforme decreto assinado pelo ex-presidente Donald Trump na quarta-feira (30). Associações empresariais pressionam o governo Luiz Inácio Lula da Silva para manter as tratativas com Washington na tentativa de incluir mais produtos nas listas de isenção.
A Abinee (Associação da Indústria Elétrica e Eletrônica) alertou que transformadores para redes de energia, um dos principais itens exportados para o mercado norte-americano, ficaram fora das exceções. Já peças de ferramentas eletromecânicas com motor elétrico autônomo e componentes de secretárias eletrônicas foram poupados. No primeiro semestre, 30% das vendas externas do segmento tiveram os EUA como destino.
“A manutenção das negociações é essencial para incluir esses produtos na lista de isentos”, afirmou, em nota, o presidente da entidade, Humberto Barbato. Segundo ele, foram enviadas propostas aos governos federal e de São Paulo para mitigar perdas de competitividade e evitar paralisações de embarques.
A Abal (Associação Brasileira do Alumínio) calcula prejuízo de R$ 1,15 bilhão com as novas tarifas. O setor já paga 50% desde março, percentual que não será somado ao novo aumento. A alumina, insumo essencial, entrou na lista de isenções, mas bauxita, hidróxido de alumínio e cimento aluminoso não.
Os EUA são o terceiro maior comprador do alumínio brasileiro, respondendo por 14,2% das exportações. Em 2023, as vendas para o país somaram US$ 773 milhões (R$ 4,2 bilhões), e cerca de um terço desse montante ficará sujeito à sobretaxa. Desde março, o setor já perdeu US$ 46 milhões (R$ 350 milhões) em receita externa.
Em nota, a Abal advertiu para o risco de a medida desorganizar cadeias produtivas integradas entre Brasil, Canadá e EUA, afetando até itens não tarifados.
No setor moveleiro, a Abimóvel prevê impacto “imediato e sistêmico” porque móveis de madeira, principal item exportado, não foram isentos. Já mobiliário metálico e móveis plásticos reforçados escaparam da sobretaxa. Os Estados Unidos absorvem cerca de 30% das exportações de móveis e colchões prontos e quase 40% de toda a cadeia, segundo a entidade.
A associação estima perda de 9 mil postos de trabalho na cadeia produtiva. Polos de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo — responsáveis por quase 99% das vendas externas do setor — relatam cancelamentos de pedidos, interrupções de produção e suspensão de embarques, tendência que pode se intensificar no Norte e Nordeste.
Imagem: Lula via redir.folha.com.br
A Assintecal (Associação de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos) teme redução da competitividade. Hoje, 20% das exportações do segmento vão para os EUA. Na indústria calçadista, o principal concorrente é a China, que enfrenta sobretaxa de 30%; a tarifa de 50% para produtos brasileiros pode inviabilizar negócios.
Produtos químicos para curtumes, responsáveis por mais de 60% das vendas do segmento, também serão afetados. Os EUA são o segundo maior comprador de couro brasileiro, com 13,3% de participação em 2024. No primeiro semestre, o Brasil exportou US$ 2,7 milhões em insumos para couro ao mercado americano, alta de 30% em relação ao mesmo período de 2023.
Para a Assintecal, mesmo com crescimento recente das vendas, a nova tarifa atingirá diretamente a cadeia de abastecimento.
As entidades reforçam pedidos para que o governo brasileiro negocie até o último dia antes da vigência da medida, na tentativa de ampliar a lista de itens isentos e minimizar o impacto sobre empregos e receitas de exportação.
Com informações de Folha de S.Paulo