Negociações para novos contratos de autoprodução de energia estão paralisadas no Brasil após um pico de assinaturas registrado nos dois meses que antecederam possíveis mudanças na legislação do setor. Advogados e consultores afirmam que empresas aguardam definições no Congresso antes de retomar investimentos.
Segundo levantamento do escritório Lefosse Advogados, que assessora esse tipo de operação, 25 projetos totalizando mais de 1 GW foram fechados durante o período de transição de 60 dias em que vigorou a Medida Provisória (MP) 1.300. O volume contrasta com os 72 projetos, somando 3,7 GW, estruturados pela banca nos últimos nove anos.
A MP 1.300, enviada pelo governo para restringir benefícios tarifários à autoprodução, deixou de tratar do tema ao ser aprovada. A discussão foi incorporada à MP 1.304, que perde validade em novembro se não for votada. Até lá, investidores preferem esperar, relata Raphael Gomes, sócio de energia do Lefosse.
“A principal pergunta hoje é ‘o que eu faço?’. Há recursos parados à espera da decisão do Congresso”, disse o advogado.
Entre as mudanças cogitadas estão o aumento do volume mínimo de energia exigido para enquadramento na modalidade e a obrigação de participação acionária maior do consumidor no empreendimento gerador. Especialistas avaliam que, caso o assunto não seja tratado na MP 1.304, o setor poderá acumular ao menos três meses de estagnação nos negócios.
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A autoprodução tem sustentado a expansão do parque elétrico brasileiro, especialmente em fontes eólica e solar. Em 2024, ela respondeu por 30 dos 31 contratos acompanhados pela consultoria Clean Energy Latin America (Cela). A CEO da empresa, Camila Ramos, confirma que vários consumidores adiaram decisões desde o anúncio da primeira medida provisória.
O modelo também foi destacado pelo governo como ferramenta para atrair data centers, que demandam grande volume de energia. “Benefício tributário sozinho não viabiliza um data center no país; a autoprodução é essencial para reduzir custos”, afirmou Gomes.
Enquanto o Congresso não define as regras, negócios permanecem suspensos e investimentos bilionários seguem em compasso de espera.