Investidores pessoas físicas têm relatado perdas expressivas em Certificados de Operações Estruturadas (COEs) lastreados em títulos de dívida de Ambipar e Braskem. Relatos publicados nas redes sociais mencionam prejuízos que chegam a R$ 267 mil após o vencimento antecipado desses produtos estruturados por XP Investimentos e BTG Pactual.
Os COEs em questão são certificados de crédito privado lastreados em bonds emitidos no exterior pelas duas companhias. A forte desvalorização desses papéis — em alguns casos próxima de 90% — acionou cláusulas de proteção que determinam o encerramento antecipado do produto quando a queda ultrapassa 50%. A medida foi disparada na última semana de setembro.
A Ambipar havia obtido decisão judicial que impede a cobrança de vencimentos antecipados de suas dívidas, enquanto a Braskem contratou assessorias financeira e jurídica para reestruturar seu passivo. O mercado interpretou as iniciativas como indícios de possíveis recuperações judiciais, provocando queda acentuada nos ativos das empresas.
Segundo a analista Maria Luisa Paolantoni, da Nord Investimentos, os resgates ocorreram de 20 a 30 dias após o gatilho, período em que a cotação dos títulos seguiu em queda. Como resultado, investidores receberam apenas 6,88% do valor aplicado no COE da Ambipar e entre 26,6% e 37% no COE da Braskem.
Um investidor que aplicou R$ 180 mil informou ter recuperado R$ 12 mil. Outro declarou ter perdido mais de R$ 101 mil, enquanto um terceiro relatou prejuízo de R$ 267 mil.
O COE Braskem 2033, distribuído pela XP, oferecia remuneração de IPCA + 10% ao ano. Já o COE da Ambipar prometia IPCA + 9,75% anuais. A perspectiva de ganhos expressivos atraiu investidores que, segundo Paolantoni, nem sempre compreenderam o nível de risco do produto.
Para o advogado Arthur Longo Ferreira, do escritório Henneberg Ferreira Linard, a corretora e o estruturador têm obrigação fiduciária de verificar se o produto é adequado ao perfil do cliente. “Não basta cumprir formalidades regulatórias; é preciso assegurar consistência com o interesse econômico do investidor”, afirma.
Imagem: redir.folha.com.br
Em seu site, a XP indica que COEs se destinam a clientes de perfil moderado (capital protegido) ou agressivo (capital em risco) e declara não se responsabilizar por decisões de investimento baseadas nas informações divulgadas.
COEs ganharam visibilidade nos últimos anos após uma série de processos contra corretoras por perdas na aplicação. Ex-assessores de investimento relataram pressão para bater metas de venda, em razão das comissões elevadas associadas ao produto.
Um usuário do X (ex-Twitter) afirmou que sua assessora da XP apresentou o COE da Ambipar como investimento de taxa prefixada com capital protegido. Diferentemente de aplicações cobertas pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), os bonds corporativos não contam com garantia especial e entram na lista de credores em eventual recuperação judicial.
Procurados, XP e BTG preferiram não comentar.