O aquecimento global do mercado de terras raras, grupo de 17 elementos químicos usados em motores elétricos, televisores e tecnologias de ponta, reacendeu o interesse de investidores. O Brasil aparece em destaque por ser o segundo maior produtor mundial, atrás apenas da China. Projeções da International Energy Agency (IEA) compiladas pelo UBS indicam que a demanda global deve saltar de 91 mil para 150 mil toneladas até 2024, avanço de 60%.
Especialistas alertam que investir em companhias de mineração de terras raras não se destina a quem busca retorno rápido, principalmente no Brasil. Segundo Jéferson Silveira Martins, sócio-diretor da Silveira Capital, o primeiro grande obstáculo é geológico: “não se sabe exatamente o que há no subsolo até que estudos robustos sejam concluídos”.
Depois da fase de pesquisa, as empresas precisam levantar capital para erguer a planta de beneficiamento, processo que consome tempo e recursos. A obtenção das licenças ambientais acrescenta outra camada de imprevisibilidade. “Mesmo seguindo todas as exigências, a autorização pode demorar ou não sair”, afirma o executivo.
Estimativas do UBS apontam que um projeto de terras raras pode levar até 16 anos para entrar em operação. No momento, a Agência Nacional de Mineração (ANM) lista 30 empreendimentos em desenvolvimento no país, espalhados por Amazonas, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Piauí e Tocantins. Apenas um funciona comercialmente: a mina Serra Verde, em Minaçu (GO), inaugurada em 2024 após 14 anos de preparação e investimento de US$ 150 milhões de fundos norte-americanos e britânicos.
A Serra Verde opera sobre um depósito de argila iônica com capacidade inicial estimada em 5 mil toneladas anuais. A produção envolve principalmente neodímio (Nd), praseodímio (Pr), térbio (Tb) e disprósio (Dy), essenciais para ímãs permanentes.
Apesar de possuir reservas conhecidas, o Brasil ainda importa terras raras para suprir sua indústria. O UBS atribui essa dependência ao elevado custo da tecnologia de extração e separação. O banco acrescenta que falta um marco legal específico, além de processos de licenciamento mais ágeis, melhor mapeamento geológico e maior estabilidade de mercado.
Investidores pessoa física podem obter exposição por meio de ações de empresas estrangeiras, notadamente listadas na Austrália, ou via fundos de índice (ETFs). Entre as companhias australianas com projetos no Brasil estão Viridis Mining (VMM), Meteoric Resources (MEI), ST George Mining (SGQ), Equinox Resources (EQN), Summit Minerals (SUM), Resouro Strategic Metal (RSM), Perpetual Resources (PEC), Ozaurum Resources (PEC), Axel REE (AXL) e Alvo Minerals (ALV). Todas negociam na Bolsa de Valores da Austrália.
Imagem: infomoney.com.br
Em mercados mais maduros, destacam-se China Northern Rare Earth Group High-Tech (código 600111, Xangai), MP Materials (BDR M2PM34 na B3) e Lynas Rare Earths (LYC, Austrália). ETFs como o VanEck Rare Earth/Strategic Metals (REMX) e o Sprott Critical Materials/Energy Transition Materials (SETM) oferecem diversificação setorial.
Marcos Piellusch, professor da FIA Business School, recomenda examinar sinais concretos de avanço dos projetos:
Para Silveira Martins, também é fundamental avaliar o histórico dos executivos responsáveis e sua experiência em colocar minas em operação.
De acordo com Piellusch, a exposição a terras raras pode funcionar como diversificação temática. Ele sugere limite de 2% a 5% do portfólio para perfis moderados e até 10% para perfis arrojados, sempre considerando a elevada volatilidade e o risco de execução. A alocação adequada depende de objetivos, horizonte de investimento e tolerância a perdas, lembrando que o segmento é cíclico e ligado ao desempenho da indústria global.