A interação entre política monetária e calendário eleitoral deve ditar o rumo dos investimentos no Brasil em 2026, segundo avaliação de Marcos Peixoto, sócio e portfólio manager da XP Asset.
Para o gestor, taxa de juros e eleições não podem mais ser analisadas separadamente. “A tese de juros e a eleição, para mim, é uma coisa só”, afirmou em entrevista ao programa Stock Pickers, conduzido por Lucas Collazo.
A casa de investimentos projeta que o Banco Central comece a cortar a Selic apenas em março de 2026, adotando ritmo gradual e cauteloso. Peixoto alerta que, quando o mercado estiver discutindo a terceira ou quarta redução da taxa, o debate político já será predominante. Nesse cenário, o BC pode ser levado a interromper – ou até reverter – o ciclo de queda, dependendo do resultado das urnas e da reação dos investidores.
Atualmente, o mercado precifica uma disputa eleitoral equilibrada, com probabilidade de 50% para cada lado, sem distorções expressivas nos preços. Peixoto enxerga, porém, um ambiente “binário”: se o humor migrar para euforia ou depressão, oportunidades claras podem surgir. Até lá, a XP Asset mantém postura cautelosa, buscando assimetrias de preço em companhias específicas.
Nos próximos meses, a gestora vê o desempenho das empresas — revisões de lucro, eficiência operacional e valuation — como principal guia para alocação. Peixoto lembra que diversas companhias sofreram quedas expressivas nos últimos anos por falhas de execução, resultando em preços mais atrativos e menor risco de novas perdas abruptas.
O gestor evita ligações lineares entre alta do dólar e ganhos de exportadoras. “Não adianta comprar commodity achando que o dólar vai subir se o preço da commodity cair”, ressaltou, indicando ainda ausência de boas assimetrias nesse segmento no momento.
Imagem: infomoney.com.br
Sobre estatais, Peixoto considera o quadro menos óbvio que em pleitos anteriores. Ele recordou que, em 2022, a XP Asset se posicionou em Banco do Brasil (BBAS3) e Petrobras (PETR4) diante de fortes distorções de preço. Hoje, avalia que a Petrobras negocia com múltiplos e política de dividendos próximos aos pares privados, reduzindo oportunidades baseadas apenas no fator eleitoral.
Para 2026, Peixoto aposta em uma condução conservadora da política monetária. Segundo ele, o BC demonstra pouca disposição para acelerar cortes diante do risco eleitoral, postura reforçada por recentes discursos do presidente da instituição. Curiosamente, observa o gestor, a maior pressão por juros menores parte do próprio mercado financeiro, e não do governo.
Diante desse quadro, a XP Asset recomenda carteiras flexíveis e prontas para ajustes rápidos. “Não dá para adivinhar como vamos chegar em outubro. Dependendo das distorções que apareçam, a gente vai se posicionar”, concluiu Peixoto, reforçando a estratégia de preservação de capital e busca de oportunidades pontuais.