O anúncio de quase 700 exceções à sobretaxa de 50% aplicada pelos Estados Unidos às exportações brasileiras fortaleceu, dentro do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o grupo que defende cautela antes de adotar medidas de retaliação.
O decreto assinado pelo presidente norte-americano Donald Trump na quarta-feira (30) acrescentou 40 pontos percentuais às tarifas sobre produtos brasileiros, somando-se aos 10% definidos em abril. Ainda assim, as isenções contemplam 43% do valor vendido pelo Brasil ao mercado norte-americano, de acordo com levantamento oficial.
Setores como derivados de petróleo, ferro-gusa, itens da aviação civil e suco de laranja ficaram fora da sobretaxa. Carnes, café e pescado, porém, permanecem sujeitos ao imposto adicional.
Apesar de reiterar publicamente que o Brasil responderá a “ações comerciais injustas”, Lula tem dito a auxiliares que pretende esgotar todas as vias de diálogo antes de recorrer à Lei da Reciprocidade, aprovada em abril e que autoriza medidas contra Washington.
Duas correntes se formaram no Executivo. De um lado, o chefe da Casa Civil, Rui Costa, defende retaliação imediata. Do outro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mantém postura moderada, alinhada à posição do presidente.
Aliados de Lula argumentam que uma reação agora poderia comprometer a tentativa de ampliar a lista de exceções. Também pesa o receio de que Trump adote novas punições caso o Brasil imponha sanções, além da avaliação de que o empresariado nacional demonstra pouco apoio a um confronto comercial neste momento.
Imagem: Lula via redir.folha.com.br
Se a crise avançar e a retaliação se tornar inevitável, interlocutores do Planalto descartam uma tarifa uniforme sobre produtos norte-americanos. As importações brasileiras concentram-se em motores, máquinas, óleo combustível, aeronaves, gás natural e medicamentos; taxá-los poderia pressionar a inflação interna.
Entre as alternativas em estudo está a restrição ao pagamento de royalties em setores como o farmacêutico e o audiovisual, o que atingiria a área de propriedade intelectual dos Estados Unidos.
Por ora, o governo acompanha a disposição de Washington em negociar e observa se haverá novos movimentos contra exportações brasileiras ou exigências políticas, como o arquivamento de processos envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Com informações de Folha de S.Paulo