O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que a França fará “forte oposição” a qualquer tentativa da União Europeia de aprovar o acordo comercial com o Mercosul sem mudanças adicionais. A posição foi reiterada na reunião de gabinete desta quarta-feira (17), segundo a porta-voz do governo, Maud Bregeon.
Na véspera, Macron já havia defendido o adiamento da assinatura do tratado, argumentando que as atuais condições não oferecem garantias suficientes ao setor agrícola francês. O Palácio do Eliseu exige salvaguardas mais rígidas, como as chamadas “cláusulas espelho”, que obrigariam os exportadores de Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai a cumprir integralmente as regras europeias sobre pesticidas, uso de cloro e inspeções sanitárias.
“Ninguém entenderia se vegetais, carne bovina e frango quimicamente tratados com produtos proibidos na França chegassem ao nosso solo”, declarou Bregeon.
Também nesta quarta-feira, representantes do Parlamento Europeu, da Comissão Europeia e do Conselho da UE iniciam negociações para definir salvaguardas adicionais ao acordo. Na terça-feira (16), eurodeputados aprovaram um texto que endurece o controle sobre importações agrícolas sensíveis. A proposta determina que Bruxelas abra investigação quando a flutuação de preços superar 5% — patamar inferior aos 10% previstos inicialmente — e prevê sanções a produtos que não atendam aos padrões sanitários e ambientais do bloco.
Para o Mercosul, o pacto representa a chance de ampliar vendas de commodities agrícolas; já a UE busca reduzir tarifas sobre veículos, máquinas, serviços e vinhos.
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Apesar da expectativa de que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, viaje ao Brasil no sábado (20) para formalizar o acordo, o texto ainda precisa do aval unânime do Conselho da UE. Além da França, Itália, Polônia e Hungria já declararam oposição, aproximando-se da minoria de bloqueio exigida — pelo menos quatro países que representem 35% da população do bloco.
Caso Áustria e Irlanda se alinhem a Paris, a Dinamarca, que ocupa a presidência rotativa do Conselho, tende a retirar o tema da pauta de votação prevista para quinta-feira, atendendo ao pedido de adiamento.
O acordo foi fechado politicamente há um ano, após 25 anos de negociações entre os dois blocos.