Em artigo publicado no blog De Grão em Grão, da Folha de S.Paulo, o assessor de investimentos Michael Viriato afirmou que grande parte dos brasileiros acredita controlar o próprio orçamento, mas desconhece o valor exato das despesas mensais.
Segundo pesquisa do Datafolha realizada para a Planejar (Associação Brasileira de Planejamento Financeiro), 52% dos entrevistados dizem ter boa noção de quanto gastam, embora não saibam apontar o total desembolsado a cada mês.
Viriato atribui essa discrepância à “ilusão de controle” provocada por pequenas despesas diárias — como café, aplicativos de transporte, assinaturas de streaming e pagamentos via Pix — que, somadas, comprometem parte significativa da renda. O fenômeno se intensificou com o uso do dinheiro digital, que reduz a “dor de pagar”, termo usado por economistas comportamentais para descrever a sensação de perda ao gastar.
O especialista calcula que dois lanches diários de R$ 15 — um café com pão na chapa pela manhã e um lanche à tarde — representam R$ 900 por mês. Se esse valor for investido durante 40 anos, a uma taxa real de 6% ao ano, o montante acumulado alcançaria aproximadamente R$ 1,79 milhão em valores de hoje. O patrimônio renderia cerca de R$ 10,75 mil mensais, corrigidos pela inflação, por três décadas.
O Prêmio Nobel de Economia Richard Thaler demonstrou que as pessoas criam compartimentos financeiros imaginários — para lazer, alimentação ou imprevistos — e tendem a gastar mais do que percebem em cada categoria. De acordo com Viriato, o cérebro ignora o efeito cumulativo de valores considerados pequenos.
Imagem: redir.folha.com.br
Para quem tem dificuldade de registrar cada desembolso, Viriato sugere acompanhar o quanto se consegue poupar mensalmente. Caso a resposta seja “nada” ou “menos do que gostaria”, o desequilíbrio orçamentário já está evidente, afirma.
O assessor de investimentos conclui que, enquanto o controle financeiro permanecer apenas como sensação, a liberdade econômica continuará distante.