O economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, afirmou que o mercado de trabalho norte-americano dá sinais de enfraquecimento, apesar de a taxa de desemprego continuar baixa. A avaliação foi feita na edição mais recente do podcast Outliers InfoMoney, conduzido por Clara Sodré e Fabiano Cintra.
Segundo Megale, a criação líquida de vagas nos Estados Unidos vem perdendo ritmo, divergindo de outros indicadores, como Produto Interno Bruto (PIB) e consumo. Para ele, a proliferação de empregos flexíveis, viabilizados por aplicativos, serve de alternativa à redução de postos formais e dificulta a leitura da real desaceleração.
O economista chamou atenção para o impacto do shutdown que interrompe a coleta de estatísticas federais, provocando um “apagão” de dados e dificultando o trabalho do Federal Reserve (Fed). Megale ressaltou que o banco central norte-americano tem papel histórico de âncora de estabilidade global e alertou para os riscos de perda de credibilidade.
Dentro desse cenário, o Fed já iniciou um ciclo de cortes de juros e o mercado espera novas reduções, dada a influência da taxa básica dos Estados Unidos sobre os demais países.
No Brasil, Megale observou sinais leves de desaceleração no emprego e mais evidentes no crédito. Mesmo assim, a economia segue resiliente, com inflação acumulada de 5% em 12 meses até setembro, acima da meta de 3%.
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Ele explicou que o Banco Central adota postura cautelosa, equilibrando o aperto monetário — com a Selic em patamar elevado — e estímulos fiscais em vigor, como desoneração para famílias de menor renda e ajustes em linhas de crédito imobiliário e consignado. Essa combinação atenua o impacto dos juros sobre a atividade.
De acordo com Megale, o efeito do aperto monetário começou a aparecer de forma mais clara, levando à postergação do início dos cortes na Selic de janeiro para março. Contudo, novas medidas fiscais expansionistas podem reaquecer a economia, mantendo o balanço de riscos complexo.
Para o próximo ano, o economista vê cenário global e doméstico imprevisível, com oportunidades e ameaças ligadas à trajetória das commodities, às decisões de política monetária nos EUA e às negociações comerciais internacionais. O preço do petróleo, destacou, será variável crucial para as contas públicas brasileiras.