A megaoperação policial realizada na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, zona norte do Rio de Janeiro, já soma 121 mortos, 113 presos e 118 armas apreendidas, segundo balanço mais recente das autoridades fluminenses. O episódio foi usado pelo jornalista e assessor de investimentos Marcos de Vasconcellos, em coluna publicada nesta segunda-feira (17), para apontar o que chama de “falha em calcular a taxa da bala” — a penalidade financeira imposta pela criminalidade à economia do país.
Vasconcellos argumenta que, além das vidas perdidas, a violência gera um custo mensurável que afeta balanços de empresas, afasta investimentos e eleva as taxas de juros exigidas para a atração de capital. Ele cita dados do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) segundo os quais a violência consome, em média, 3% do Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina a cada ano, valor equivalente a todo o investimento anual em infraestrutura na região.
O colunista também menciona estudo da City, University of London sobre o México, que concluiu que o aumento da criminalidade leva os bancos a elevarem os juros cobrados, mesmo sem interromper a oferta de crédito. Para os economistas, essa diferença no custo do dinheiro representa a “penalidade financeira” ou “taxa da bala”.
Na análise, Vasconcellos critica operações policiais pontuais que retomam territórios dominados pelo tráfico ou pela milícia por curto período. Segundo ele, a retirada do Estado após essas ações favorece a expansão de organizações criminosas, que atuam com “lógica empresarial de diversificação, reinvestimento e esquemas de lavagem de dinheiro”, a exemplo do que foi revelado pela Operação Carbono Oculto, que investigou a presença do Primeiro Comando da Capital (PCC) no mercado financeiro da região da Faria Lima, em São Paulo.
O jornalista relembra a experiência das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), implementadas a partir de 2008, que, de acordo com especialistas, reduziram a criminalidade e melhoraram a infraestrutura nos primeiros anos. A parte social prevista no projeto, porém, não chegou a ser efetivada, e a falta de recursos acabou tornando o modelo insustentável. “O fracasso não foi policial, mas econômico”, afirma.
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Para ilustrar a relação entre violência e custo do dinheiro, Vasconcellos compara países com menos de um homicídio por 100 mil habitantes, como Japão, Alemanha e Suíça, onde o juro real médio se aproxima de zero, com nações que registram mais de 20 homicídios, entre elas Brasil, México e Nigéria, em que as taxas reais superam 5%.
Na avaliação do colunista, o ciclo se retroalimenta: investimentos insuficientes e mal direcionados na segurança pública minam a confiança de agentes econômicos, reduzem a chegada de capital e criam novas brechas para a criminalidade, pressionando novamente o custo financeiro do país.