A iniciativa Manas Digitais, criada por docentes da Universidade Federal do Pará (UFPA) e outras instituições, vem qualificando meninas e mulheres da região amazônica para atuar no setor de tecnologia e conectando as formandas ao mercado de trabalho.
Idealizado pela professora e pesquisadora Danielle Costa (UFPA) ao lado de Gabriela Rodrigues (IFPA), Márcia Homci (Unama) e Regiane Kawasaki (UFPA), o projeto ganhou fôlego em 2019 após aprovação em edital do CNPq voltado ao aumento da presença feminina nas ciências exatas. O programa começou com oficinas de lógica de programação, pensamento computacional e desenvolvimento de aplicativos em cinco escolas públicas de Ananindeua, na região metropolitana de Belém (PA).
Com a criação de perfis nas redes sociais, o grupo passou a receber convites de outras partes do país. Em 2021, firmou parceria com o PicPay para formar 20 desenvolvedoras mobile em Android; quase todas foram contratadas, algumas pela própria fintech. Nos anos seguintes, repetiu o modelo com Banco Carrefour, a plataforma de cursos Alura e a Fundação Baobá.
Segundo Danielle, o diferencial está na grade curricular flexível, na mentoria individual e na aprendizagem baseada em problemas da própria região. “Mapeamos o perfil de cada participante — se é mãe, pessoa com deficiência, distância de deslocamento e tempo disponível — e ajustamos a trilha de estudos”, afirma.
Em 2023, o BNDES Garagem selecionou o empreendimento, permitindo a criação do TacaCode Hub, empresa que oferece programas de educação corporativa sob demanda a organizações interessadas em ampliar a contratação de mulheres em TI. Apesar da formalização, o foco continua em mulheres de baixa renda e contextos vulneráveis.
No ano seguinte, a atuação se estendeu a outros estados por meio de acordos com a Prefeitura de Palmas e com o programa Impulsoria, do British Council, que capacitou instrutores comunitários para multiplicar o ensino de tecnologia em diversas localidades da Amazônia.
Imagem: redir.folha.com.br
A paraense Ana Vitória Bacelar, 25, era uma das quatro mulheres entre 40 alunos de ciência da computação na UFPA. Após ingressar no Manas Digitais, especializou-se em experiência do usuário, colaborou na criação do nome e da identidade visual do projeto e hoje trabalha como designer de produto em São Paulo, além de atuar como voluntária na iniciativa.
Outra participante, Melissa Cordeiro, 25, integrou a equipe de design do programa entre 2019 e 2023. Por meio de cursos de UX/UI ofertados em parceria com a Alura, montou portfólio e conquistou vaga de UX Designer em Curitiba. “Para onde você vai, costuma ser a única mulher da área, mas o Manas foi meu guia em toda a jornada acadêmica e profissional”, destaca.
De acordo com Danielle Costa, mostrar às moradoras da Amazônia que a tecnologia é um campo acessível e que sua presença é essencial permanece como a principal missão do projeto.