Os ativos brasileiros devem continuar se beneficiando do ambiente internacional favorável criado pela redução dos juros nos Estados Unidos e pela maior diversificação de portfólios globais, ao menos até o início oficial da campanha presidencial de 2026. A avaliação consta da carta mensal da Monte Bravo, assinada por Alexandre Mathias, Luciano Costa e Bruno Benassi.
O Federal Reserve iniciou em setembro seu ciclo de afrouxamento monetário, cortando a taxa básica em 0,25 ponto percentual, para 4,00%-4,25% ao ano. A autoridade sinalizou dois novos cortes nas reuniões de outubro e dezembro, o que pode levar a taxa a 3,75% ao ano.
O movimento impulsionou os mercados globais: em setembro, o S&P 500 avançou 3,5% e o Nasdaq, 5,6%. Os rendimentos dos Treasuries de 10 anos recuaram a 4,01% no meio do mês e fecharam em 4,154%. O dólar permaneceu estável frente a moedas desenvolvidas, mas cedeu 2% contra o real, enquanto o ouro subiu 12,8%.
Segundo a Monte Bravo, a combinação de juros mais baixos nos EUA, menor volatilidade dos Treasuries e dólar mais fraco cria um ambiente “construtivo” para ativos de risco e deve continuar favorecendo o Brasil nos próximos 12 meses.
Em setembro, o Ibovespa subiu 3,4% em reais, puxado pelo maior apetite global após o corte dos juros norte-americanos. A corretora avalia que o rali poderia ter sido mais forte não fosse o quadro fiscal delicado, que eleva o prêmio exigido nas taxas de longo prazo e limita a expansão dos múltiplos.
A casa mantém a estimativa de 150 mil pontos para o Ibovespa até o fim de 2025 e de 175 mil pontos em 12 meses.
A Monte Bravo projeta que o Banco Central só iniciará a redução da Selic em janeiro de 2026, diante de inflação sob controle e sinais de desaceleração da atividade — perda de fôlego da indústria, varejo fraco e moderação no mercado de trabalho. O ciclo poderia levar a taxa a 11% ao ano.
Imagem: Juliana Américo via moneytimes.com.br
Apesar do vento externo positivo, o relatório destaca as limitações internas. O país enfrenta déficits gêmeos — fiscal e em conta corrente — que aumentam a vulnerabilidade macroeconômica. O déficit nominal está próximo de 8% do PIB, e o déficit em conta corrente chegou a 3,5% do PIB.
A relação dívida/PIB deve saltar de 71,7% em 2022 para 84-85% em 2026. Para estabilizar essa trajetória, seria necessário um superávit primário de 2,5% do PIB, ante o déficit de cerca de 1% observado hoje.
A corretora compara o cenário atual ao período que antecedeu a crise do segundo governo Dilma Rousseff, marcado por gastos elevados e deterioração das contas externas. À medida que a eleição de 2026 se aproxima, a percepção sobre o compromisso com o ajuste fiscal será determinante para o comportamento do mercado em 2027.
Mesmo num ambiente externo benigno, a Monte Bravo reforça que ruídos eleitorais, incertezas sobre a política fiscal e possíveis medidas protecionistas nos EUA podem reduzir parte do impulso positivo para os ativos brasileiros.