A guinada política da Argentina atraiu novamente a atenção de gestores internacionais para a América Latina e fortaleceu o apetite por ativos brasileiros, segundo André Lion, sócio e diretor de investimentos da Ibiúna Investimentos.
Em entrevista ao podcast Stock Pickers, gravada cinco dias antes das eleições legislativas deste domingo na Argentina – pleito que consolidou a maioria do partido de Javier Milei no Congresso –, Lion afirmou que o movimento argentino provoca uma reavaliação das carteiras de mercados emergentes.
“A Argentina nem faz parte dos principais índices globais, mas sua virada obrigou os gestores a olhar de novo para a região. Se o investidor deixar o Brasil de fora, terá dificuldade de explicar isso ao chefe ou ao cotista”, observou.
O executivo relata que, “desde o começo de 2025”, grandes fundos internacionais voltaram a enviar representantes ao País para acompanhar de perto o cenário político e econômico. As delegações, segundo ele, participam de conferências em São Paulo e Brasília para entender as pautas do governo e se preparar para o ciclo eleitoral brasileiro.
Na avaliação de Lion, a percepção de risco político na América Latina melhorou à medida que vários países migram de administrações de esquerda para gestões mais à direita. Esse ambiente, afirma, “força todo mundo a fazer a lição de casa”.
O CIO da Ibiúna considera o momento “construtivo” para ativos de risco, apoiado pela política monetária internacional. Ele lembra que o Federal Reserve já iniciou um ciclo de redução de juros nos Estados Unidos, movimento que tende a injetar liquidez e favorecer mercados emergentes.
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No cenário doméstico, Lion projeta que o Banco Central do Brasil poderá iniciar a queda da Selic no primeiro trimestre de 2026, após manter a taxa em 15% ao ano. “Se as expectativas de inflação continuarem convergindo, haverá espaço para cortes”, disse.
Para o investidor estrangeiro, o risco político deve voltar a ganhar peso somente no segundo semestre de 2025, quando a corrida presidencial brasileira começar a influenciar as expectativas. Até lá, pesquisas de intenção de voto ainda são vistas como “ruído”, apontou o gestor.
Ele ressaltou que, historicamente, governos costumam melhorar a popularidade perto das eleições – movimento que já estaria em curso. “Há um mês e meio, a aprovação estava nas mínimas e agora começa a subir”, comentou.
Ao final, Lion destacou que a Argentina funciona como sinal de alerta para quem administra portfólios globais. “Perder o rali argentino foi aceitável, mas ficar de fora do Brasil será um problema maior”, concluiu.