As vendas de Certificados de Depósito Bancário emitidos pelo Banco Master no mercado secundário vêm aumentando a responsabilidade financeira do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que assegura ressarcimento de até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ em caso de quebra da instituição.
Investidores que carregam aplicações acima desse limite estão se desfazendo dos papéis, enquanto compradores adquirem lotes inferiores ao teto para manter a proteção do fundo. Esse movimento pulveriza o risco entre diversos CPFs, mas, ao mesmo tempo, eleva o montante potencial que o FGC teria de honrar se o banco for liquidado pelo Banco Central (BC).
Grandes bancos, principais contribuintes do FGC, demonstram insatisfação com a negociação dos CDBs e com o impasse que envolve o Master. O fundo reluta em oferecer nova linha de socorro à instituição, que necessita de cerca de R$ 300 milhões em outubro para cobrir vencimentos de títulos, além de pouco mais de R$ 1 bilhão entre novembro e dezembro, segundo fontes ouvidas sob condição de anonimato.
Sem a injeção adicional de recursos, cresce a avaliação de que uma eventual inadimplência poderá levar o BC a decretar liquidação do banco.
Nas plataformas da XP, CDBs do Master estão listados com retornos de 25,50% ao ano nos papéis prefixados, IPCA + 21% nos indexados à inflação e CDI + 11% nos atrelados à taxa DI. Dados da Quantum Finance indicam que, no fim de setembro, a remuneração média de CDBs no mercado era de 13,73% ao ano nos prefixados, IPCA + 8,11% nos ligados ao índice de preços e 99,8% do CDI nos pós-fixados.
Levantamento do marketplace Meelion, que monitora mais de 2.500 produtos de renda fixa, mostra rentabilidades até 1.300% superiores às praticadas por outras instituições.
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Críticos defendem atuação mais dura do BC, chegando a sugerir a suspensão das transações desses papéis. Para o economista e advogado Atahualpa Padilha, do escritório Benício Advogados, a proibição só poderia ocorrer por decisão judicial. Ele acrescenta que, caso os títulos se tornem “ativos tóxicos”, a própria falta de compradores pode estancar as operações.
Além da necessidade de honrar depósitos, o Master enfrenta pedidos de garantias extras das bandeiras Visa e Mastercard, preocupadas com o impacto de uma eventual liquidação sobre pagamentos a outras empresas de cartões e lojistas.
Um consórcio que incluía o apresentador Luciano Huck e a gestora EB Capital desistiu de adquirir o Will Bank, controlado pelo Master, após duas semanas de análise. Outras conversas continuam, mas a desistência reduz, por ora, a chance de o banco aliviar seu passivo por meio da venda do ativo.
Para cumprir compromissos, o Master já recorreu a uma linha emergencial de R$ 4,5 bilhões do FGC, cujo vencimento ocorreu em 1º de outubro.