O avanço do Índice Bovespa para máximas históricas e a perspectiva de novos cortes na taxa básica de juros devem ampliar a quantidade de ofertas de ações na B3 entre o fim deste ano e o início de 2026. A avaliação é de George Costa e Silva, responsável pela área de Mercado de Capitais de Renda Variável do Bradesco, que vê espaço para, ao menos, cinco operações subsequentes (follow-ons) nos próximos meses.
De acordo com o executivo, empresas listadas podem recorrer a emissões primárias para reduzir dívidas, reforçar caixa antes do calendário eleitoral ou antecipar o pagamento de dividendos. Emissões secundárias, nas quais um acionista relevante vende parte da participação, também devem ganhar força diante da recente valorização dos papéis.
A mesma expectativa é compartilhada por Castelo Branco, que prevê maior atividade entre janeiro e maio de 2026. Ele cita três motivações principais: desalavancagem, captações para investimento – sobretudo em energia e infraestrutura – e vendas oportunísticas de participações por fundos de private equity ou grandes sócios.
Até agora, 2025 registra nove ofertas públicas de ações, repetindo o total de 2024 e marcando o menor nível desde 2018, quando houve cinco operações, segundo a Anbima. O volume captado soma R$ 15 bilhões, inferior aos R$ 25 bilhões de 2024. Dois terços desse montante vieram das duas emissões da Cosan em novembro, que levantaram R$ 10,5 bilhões para abater dívidas.
Costa e Silva observa que o mercado de crédito privado começa a dar sinais de saturação, com queda nos prêmios dos títulos incentivados. Esse movimento, aliado ao recuo dos juros, pode estimular a migração de recursos para renda variável.
A aprovação da retenção de 10% sobre dividendos a partir de 2026 também pode antecipar ofertas. Algumas companhias estariam planejando emissões primárias para levantar recursos e pagar proventos antes da nova regra.
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Apesar do cenário favorável para follow-ons, as aberturas de capital (IPOs) devem demorar mais. A incerteza em torno da eleição presidencial empurra uma possível retomada para depois de 2026, aponta Costa e Silva. Castelo Branco acrescenta que a decisão depende de clareza sobre temas como equilíbrio fiscal e trajetória da dívida pública, o que torna 2027 a janela mais provável.
O último grande ciclo de IPOs ocorreu em 2019, quando 46 empresas estrearam na B3. Desde 2021, não há novos registros e a última listagem de uma companhia brasileira foi a do Nubank, nos Estados Unidos. Segundo Castelo Branco, empresas de setores valorizados lá fora, como bancos e fintechs, podem optar por abrir capital no exterior antes de 2027, seguindo exemplos de XP, PagSeguro e Stone.
No curto prazo, o calendário internacional limita novas operações. Para aproveitar a participação de investidores estrangeiros, as ofertas precisam estar estruturadas antes do feriado de Ação de Graças, em 26 de novembro. Após 28 de novembro, a tendência é que novas emissões fiquem para o próximo ano.
Com a bolsa em alta, juros em queda e renda fixa menos atrativa, bancos de investimento avaliam que o terreno para emissões está pronto. A definição do calendário eleitoral, porém, seguirá como fator decisivo para o retorno dos IPOs.