A expansão da inteligência artificial (IA) pode aumentar o comércio mundial entre 34% e 37% até 2040, segundo o relatório anual da Organização Mundial do Comércio (OMC) divulgado nesta quarta-feira (17). O estudo destaca que o resultado dependerá da redução da exclusão digital, da capacitação de trabalhadores impactados pela tecnologia e de um ambiente de negócios aberto e estável.
O documento também projeta crescimento de 42% no comércio de serviços digitais, segmento que inclui a própria IA. A entidade calcula que o produto interno bruto (PIB) global pode avançar de 12% a 13% nos próximos 15 anos se governos adotarem políticas que estimulem a inovação e a conectividade.
Apesar do potencial de crescimento, bens relacionados à IA enfrentam um número crescente de restrições tarifárias: passaram de 130 em 2012 para quase 500 em 2024. A escalada é liderada por países de renda alta ou média alta, muitos deles críticos à guerra comercial iniciada pelo ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump.
No prefácio do relatório, a diretora-geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, alerta que “muitos trabalhadores e até economias inteiras podem ficar para trás” se a transição não for acompanhada de esforços para diminuir desigualdades tecnológicas. Ela lembra que a globalização proporcionou ganhos significativos nas últimas décadas, mas nem todas as regiões se beneficiaram de forma equilibrada.
De acordo com a OMC, economias de baixa renda poderiam mais que dobrar sua renda até 2040 caso alcançassem metade do nível de infraestrutura e tecnologia dos países ricos. Nesses cenários, o incremento no comércio passaria de 8% para 15%.
A vice-diretora-geral Joanna Hill ressalta que medidas em áreas como infraestrutura, energia, educação e apoio governamental são cruciais para traduzir o potencial da IA em ganhos concretos de comércio e renda.
Segundo o relatório, a IA ajuda a reduzir barreiras linguísticas, custos logísticos e prazos de verificações regulatórias. Exemplos incluem uma agritech de Gana que oferece suporte a agricultores em 27 idiomas e a dinamarquesa Maersk, que eliminou despesas comerciais em várias etapas da cadeia marítima.
Imagem: empresas de IA via redir.folha.com.br
O estudo prevê leve aumento no número total de postos de trabalho após a adoção ampla da IA. A remuneração de trabalhadores menos qualificados tende a subir modestamente, enquanto salários de profissionais altamente qualificados podem recuar, reduzindo a diferença entre os dois grupos.
Embora reconheça o cenário “extremamente complexo”, a OMC lembra que 72% das mercadorias que circulam atualmente no mundo ainda seguem suas regras. A entidade defende revisão profunda do sistema multilateral para lidar com os desafios criados pela IA e pelas disputas comerciais.
O relatório menciona o Brasil em três pontos: uso de IA na facilitação de processos aduaneiros, elaboração de legislação específica sobre a tecnologia — em linha com a União Europeia e distinta dos Estados Unidos — e criação de uma agência responsável pela supervisão do setor.
Para a OMC, a combinação de políticas públicas, investimentos em infraestrutura digital e ambiente regulatório previsível será determinante para que o potencial de quase 40% de crescimento do comércio global se materialize até 2040.