NOVA YORK e SAN FRANCISCO, 6 de outubro de 2025 – A OpenAI assinou, somente neste ano, contratos que totalizam aproximadamente US$ 1 trilhão para garantir poder computacional capaz de sustentar seus modelos de inteligência artificial, como o ChatGPT. O montante ultrapassa em larga escala a receita atual da companhia e desperta dúvidas sobre a origem dos recursos necessários para honrar os compromissos.
O acordo mais recente, fechado nesta segunda-feira (6), envolve a fabricante de chips AMD. Antes dele, a empresa já havia firmado entendimentos semelhantes com Nvidia, Oracle e a provedora de data centers CoreWeave. Juntos, esses contratos asseguram à OpenAI acesso a mais de 20 gigawatts de capacidade computacional ao longo da próxima década — volume equivalente à energia gerada por cerca de 20 reatores nucleares.
Segundo executivos da startup, cada gigawatt dedicado à IA custa hoje em torno de US$ 50 bilhões, somando o valor total de US$ 1 trilhão previsto.
Parte dos contratos prevê estruturas financeiras circulares. No entendimento com a Nvidia, a fabricante de chips destinará US$ 100 bilhões à OpenAI nos próximos dez anos, verba que poderá ser usada para comprar mais unidades da própria Nvidia. Já a aliança com a AMD garante à OpenAI o direito de adquirir até 10% das ações da parceira por US$ 0,01 cada, caso metas de projeto e de valorização dos papéis — que fecharam o pregão da segunda-feira a quase US$ 204 — sejam alcançadas. A revenda desses títulos pode ajudar a custear a compra de semicondutores.
A análise do Financial Times calcula que os acertos com Nvidia e AMD possam consumir US$ 500 bilhões e US$ 300 bilhões, respectivamente. O contrato com a Oracle adiciona outros US$ 300 bilhões, enquanto a CoreWeave informou compromissos de computação no valor de US$ 22 bilhões.
Em janeiro, a OpenAI, SoftBank e Oracle anunciaram o projeto Stargate, que prevê até US$ 500 bilhões em infraestrutura nos Estados Unidos. Não está claro como os novos pactos se encaixam nessa iniciativa.
A divulgação dos acordos turbinou o valor de mercado das companhias envolvidas. O patrimônio da Oracle subiu US$ 244 bilhões após o anúncio do mês passado, e as ações da AMD avançaram quase 24% nesta segunda (6), acrescentando US$ 63 bilhões em capitalização de mercado.
Apesar do ritmo de expansão, analistas questionam a capacidade da OpenAI de sustentar os desembolsos. Gil Luria, da DA Davidson, estima que a empresa possa registrar perda de cerca de US$ 10 bilhões neste ano. Para bancar a infraestrutura, a startup já captou US$ 4 bilhões em empréstimos bancários em 2024 e levantou cerca de US$ 47 bilhões em capital de risco nos últimos 12 meses — parte ainda depende de negociações com a Microsoft, sua principal apoiadora. Avaliada recentemente em US$ 500 bilhões, a companhia prepara-se para buscar “dezenas de bilhões” em novas dívidas.
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A agência Moody’s apontou preocupação com o risco de crédito da OpenAI e destacou a dependência da Oracle em relação ao futuro da startup. Observadores também alertam para a possibilidade de formação de uma bolha de IA, caso o crescimento da demanda por processamento intensivo desacelere.
Hoje, o faturamento anual da OpenAI gira em torno de US$ 12 bilhões. A estratégia é multiplicar esse valor com o lançamento de novos produtos e a duplicação do número de assinantes pagos do ChatGPT. Sam Altman, diretor-executivo da empresa, afirmou que tornar-se lucrativa “não está entre as 10 principais preocupações” no momento, embora reconheça a necessidade de rentabilidade no longo prazo. “Estamos em fase de investimento e crescimento”, declarou.
Investidores como Jeff Bezos e Larry Ellison veem paralelos entre o estágio atual da OpenAI e períodos iniciais de Amazon e Oracle, quando ambas as companhias tiveram de cortar custos após flertar com a insolvência.
O êxito dos planos depende de a procura por serviços de IA manter trajetória ascendente. Caso o consumo desacelere, o entusiasmo que impulsionou as ações de empresas de tecnologia pode se dissipar rapidamente, elevando a pressão sobre a OpenAI e seus parceiros.
A empresa não detalhou se adquirirá chips de forma direta ou via provedores de nuvem, mas parte do hardware da Nvidia deverá ser alugado. Enquanto isso, entidades como a CoreWeave levantaram mais de US$ 12 bilhões em dívidas lastreadas em suas próprias unidades Nvidia, evidenciando o caráter interdependente do ecossistema.
Analistas observam que a OpenAI opera em um setor ainda mais intensivo em capital do que Google ou Microsoft na época da fundação, e faz isso sem a mesma tradição de controle de despesas. O sucesso ou fracasso desses contratos trilionários deve definir o próximo capítulo da corrida global por inteligência artificial.