Participação modesta do agronegócio na Bolsa abre espaço para novos investimentos, dizem especialistas

Estratégias de investimento14 horas atrás11 Visualizações

O agronegócio responde por cerca de 25% do Produto Interno Bruto brasileiro, mas representa pouco mais de R$ 534 bilhões no mercado de capitais, contra um volume total que chega a R$ 16 trilhões. O contraste, apontado em boletim recente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), foi o ponto de partida do painel de Agronegócios do Onde Investir 2026, evento anual do InfoMoney.

A discussão reuniu Leonardo Alencar, head de agro da XP, e Paulo Mesquita, sócio e gestor do núcleo de agro da Riza, com mediação dos jornalistas Roberto de Lira (InfoMoney) e Luiz Henrique Mendes (The AgriBizz).

Volatilidade em 2025

Os debatedores avaliaram 2025 como um ano de fortes oscilações para a cadeia agropecuária. Alencar apontou as tarifas impostas pelo governo de Donald Trump sobre produtos agrícolas – como soja com a China e, posteriormente, carne bovina, pescado e café do Brasil – como o fator externo mais disruptivo. No front doméstico, destacou a taxa Selic a 15%, que pressionou o crédito.

No campo político, a ameaça de tributação sobre títulos isentos afetou o humor dos investidores em Fiagros, mas acabou barrada no Congresso. Mesquita lembra que, mesmo sem aprovação, a proposta contribuiu para ampliar a volatilidade dos papéis do setor.

Emissões e juros elevados

O gestor da Riza atribuiu o aumento de emissões nos últimos meses de 2025 ao nível elevado dos juros. “Papéis isentos rendendo 15% ao ano são atrativos por si só”, afirmou, projetando manutenção da demanda em 2026.

Saúde financeira desigual

Casos de recuperação judicial desde 2023 e dados de inadimplência divulgados pelo Banco do Brasil geraram cautela, mas Alencar ressaltou a heterogeneidade do agronegócio. Segundo ele, produtores de soja proprietários de terra lucram, enquanto arrendatários ou altamente alavancados enfrentam perdas. Para 2026, o especialista também prevê dificuldades para a cana-de-açúcar, após quebra de produtividade e concorrência internacional no açúcar.

Proteína animal em destaque

Ambos enxergam 2026 como favorável ao segmento de proteína. Alencar avalia que margens devem melhorar para criadores e engordadores de gado, ainda que processadoras possam sentir pressão caso o preço da carne não acompanhe a alta do boi. Mesquita acrescentou que a pecuária migra de sistemas totalmente extensivos para modelos semi-intensivos, o que aumenta eficiência.

Como acessar o setor

Para captar o ciclo positivo, Alencar sugere priorizar exposição à produção rather than aos frigoríficos listados, lembrando que empresas como JBS têm receita majoritariamente fora do Brasil. Mesquita vê espaço para produtos financeiros mais sofisticados, além das ações e dos Fiagros tradicionais, citando a possibilidade de veículos que coinvistam em confinamentos.

Investimento em terras

O fundo Terrax, da Riza, exemplifica o acesso indireto ao patrimônio fundiário por meio de operações de sale & leaseback. Mesmo considerando retornos de longo prazo, Mesquita defende o modelo como “ótimo negócio” diante da necessidade de liquidez de alguns produtores de grãos. Alencar pondera que o mercado de terras é pouco líquido, com precificação difícil no curto prazo e normalmente indexada à inflação até surgir um superciclo de commodities.

Com diferentes elos da cadeia em fases distintas, os especialistas concluem que a baixa participação do agro na Bolsa representa, ao mesmo tempo, um retrato da concentração de ativos no mercado doméstico e uma oportunidade para ampliar a oferta de produtos voltados ao campo.

0 Votes: 0 Upvotes, 0 Downvotes (0 Points)

Deixe um Comentário

Pesquisar tendência
Redação
carregamento

Entrar em 3 segundos...

Inscrever-se 3 segundos...

Todos os campos são obrigatórios.