São Paulo – Em nova coluna publicada nesta quarta-feira (20), o economista Michael França afirma que o sentimento de pertencimento é decisivo para compreender as dificuldades de mobilidade social no Brasil.
Segundo o pesquisador do Insper, vencedor do Prêmio Jabuti Acadêmico, as elites nacionais — sejam econômicas, culturais ou acadêmicas — estabelecem códigos de comportamento que funcionam como filtros de exclusão. “Ascender na renda ou obter diplomas não garante atravessar a fronteira que separa incluídos de excluídos”, escreve.
França baseia sua análise no livro “Identity Economics”, de George Akerlof e Rachel Kranton, que mostra como pessoas buscam não apenas incentivos monetários, mas também o direito de fazer parte de determinado grupo. No Brasil, argumenta o colunista, essas barreiras — como linguagem, referências culturais ou vestuário — não aparecem em editais de concursos nem nos processos seletivos formais, mas pesam nas decisões de contratação e promoção.
Para ilustrar, ele cita o exemplo de jovens de origem desfavorecida que chegam a escritórios de advocacia de prestígio: além das responsabilidades profissionais, precisam se adequar ao “molde exigido”, incluindo uso de terno e gravata em pleno verão tropical. Esse esforço, observa, pode gerar perda de laços com o lugar de origem e sensação de não pertencer a nenhum dos dois mundos.
O economista aponta ainda que o pertencimento é “assimétrico”: para poucos, é herdado; para a maioria, precisa ser renegociado constantemente. O processo, considera, limita redes de contato, restringe ascensão e reforça a desigualdade.
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França conclui que políticas de inclusão terão impacto restrito se não forem acompanhadas por mudanças culturais que ampliem os padrões do que é considerado legítimo nos espaços de elite.
O colunista aproveita o texto para convidar leitores ao lançamento de seu livro “A Loteria do Nascimento”, marcado para esta quarta-feira (20), às 18h, no Insper, em São Paulo.