São Francisco, 10 de novembro de 2025 – Uma frase publicada pelo diretor-de-tecnologia (CTO) da Ripple, David Schwartz, movimentou discussões sobre a forma como o Bitcoin (BTC) muda ao longo do tempo. Em postagem na rede social X, o executivo escreveu, em tom de ironia: “Bitcoin não é o mesmo agora que era há 50 anos”. A brincadeira, feita sobre uma moeda criada em 2009, serviu de gancho para reacender o debate acerca da velocidade e da natureza das mudanças no protocolo.
Especialistas lembram que o Bitcoin opera em duas cadências distintas. No nível de base (Layer 1), alterações dependem de consenso amplo e costumam ocorrer por meio de soft forks — atualizações que apertam as regras de validação sem quebrar compatibilidade. Já nas pontas, em aplicações e camadas superiores, a experimentação acontece muito mais rápido.
Avanços como a segregação de testemunhas (Segregated Witness, BIP 141), ativada em 24 de agosto de 2017, e o Taproot, habilitado em novembro de 2021, exemplificam mudanças no núcleo após longos períodos de discussão, testes e sinalização de mineradores. Propostas atuais, como a reativação do OP_CAT ou a inclusão do OP_CTV (BIP 119), seguem o mesmo caminho, exigindo análise pública e coordenação entre desenvolvedores, mineradores e usuários.
Enquanto isso, soluções de pagamento fora da cadeia principal, como a Lightning Network, evoluem com mais agilidade por não exigirem voto de consenso para cada ajuste. Ferramentas como contratos point timelock (PTLCs) aprimoram privacidade e roteamento de transações sem tocar o código de validação do Bitcoin.
Fenômenos recentes, caso dos Ordinals e das inscriptions, ilustram a mesma dinâmica. Eles numeram satoshis e anexam dados usando funções já existentes desde o Taproot, permitindo a criação de colecionáveis digitais sem alterar as regras fundamentais da rede.
O processo mais lento no nível de consenso está ligado ao conceito de “ossificação do protocolo”: quanto maior o valor em jogo, maior o custo de coordenação para qualquer mudança. Isso explica por que tecnologias fundamentais, desenvolvidas décadas antes — como criptografia de chave pública (Diffie-Hellman, 1976), árvores de Merkle (1979) e esquemas de proof-of-work como o Hashcash (1997/2002) — continuam sendo a base de sistemas modernos.
Imagem: cointelegraph.com
Para analistas, a piada de Schwartz resume esse contraste: embora manchetes sugiram transformações constantes, o “relojão” da camada 1 avança devagar, enquanto inovações periféricas podem surgir e se espalhar em questão de meses.
Em meio à discussão, críticos de XRP, como o charterholder CFA e comentarista de finanças Rajat Soni, também participam do debate nas redes, reforçando que volatilidade e mudanças de preço são percebidas em termos fiduciários, não na unidade interna de conta do Bitcoin.
No fim, a frase irônica do CTO da Ripple virou um lembrete de que, antes de afirmar que o Bitcoin mudou, é preciso indicar onde — no núcleo ou nas extremidades — a alteração realmente aconteceu.