Plano da Strategy para o Bitcoin prevê venda apenas em situação extrema, diz CEO

A Strategy, ex-MicroStrategy, mantém cerca de 650.000 bitcoins (BTC) em seu balanço — pouco mais de 3% da oferta máxima de 21 milhões de moedas — e permanece a maior detentora corporativa do ativo. Segundo o diretor-presidente Phong Le, a empresa só considerará vender parte desse montante se uma combinação de dois fatores negativos ocorrer simultaneamente.

Como a companhia sustenta suas compras de BTC

A operação da Strategy baseia-se em captar recursos no mercado tradicional e converter grande parte do dinheiro em Bitcoin. Entre os principais instrumentos de funding estão programas de venda de ações ordinárias, séries de ações preferenciais perpétuas (como STRK e STRF) e emissões de dívida conversível.

Para avaliar se o modelo continua vantajoso aos acionistas, a administração acompanha indicadores internos, especialmente:

• Bitcoin por ação (BPS): volume de BTC que, na prática, lastreia cada ação totalmente diluída;
• Market-cap-to-net-asset-value (mNAV): relação entre o valor de mercado da companhia e o valor de mercado de sua reserva de Bitcoin. Quando o índice está acima de 1, a ação negocia com ágio em relação aos BTC detidos.

O gatilho definido para uma possível venda

Em entrevistas recentes, Phong Le explicou que uma alienação de BTC seria “último recurso” e só ocorreria se, ao mesmo tempo:

1. o mNAV caísse abaixo de 1, indicando que o valor de mercado da empresa igualou ou ficou menor que o valor de seus Bitcoins; e
2. o acesso a novo capital fosse severamente limitado, impossibilitando emissões de ações ou preferenciais em condições viáveis.

Nesse cenário, a venda de uma fração das reservas serviria para honrar obrigações como dividendos das preferenciais e serviços da dívida, preservando a estrutura de capital.

O que pode levar a esse ponto

Diversos fatores precisam convergir para que a estratégia de “vender só em crise” seja acionada:

Imagem: cointelegraph.com

• Preço do Bitcoin: quedas prolongadas — o ativo já recuou cerca de 30% desde a máxima histórica de outubro de 2025, perto de US$ 126 mil — reduzem o valor da reserva e pressionam a ação.
• Desempenho da ação: a Strategy já viu o prêmio em relação ao valor de seus BTC encolher após recuos de 30% a 60% na cotação; em meados de novembro, a empresa chegou a negociar perto do valor à vista de suas moedas.
• Condições de financiamento: dificuldades para emitir novas ações ou preferenciais, ou exigência de rendimentos maiores pelos investidores, indicariam estresse na captação.
• Compromissos internos: analistas estimam que os dividendos das preferenciais somem centenas de milhões de dólares por ano, além do serviço da dívida existente.

Impacto potencial de uma venda no mercado

Embora possua 650.000 BTC, qualquer desinvestimento provável seria parcial e direcionado, segundo Le. O mercado de Bitcoin movimenta dezenas de bilhões de dólares em volume diário, incluindo negociações à vista e derivativos, além de fluxos bilionários registrados em ETFs norte-americanos. Nesse contexto, a liquidação de uma fatia das reservas da Strategy tenderia a ser absorvida sem exigir uma saída total do ativo.

Indicadores para acompanhar

Investidores interessados podem monitorar:

• documentos enviados à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC), como formulários 8-K e suplementos de prospecto, que detalham novas captações e o tamanho da posição em BTC;
• comunicados oficiais da empresa e a página “Bitcoin Purchases”, que resume compras recentes;
• a evolução do mNAV e do BPS, publicados pela própria Strategy.

Relatórios nas redes sociais costumam refletir sentimento e podem exagerar cenários de venda forçada; por isso, o cruzamento de informações com dados oficiais é recomendado.

Estudos independentes estimam que instituições já possuam perto de 20% de todos os bitcoins minerados e que entre 3 milhões e 4 milhões de moedas estejam perdidas para sempre em carteiras inacessíveis — fatores que reduzem a oferta circulante e reforçam o peso de grandes detentores corporativos como a Strategy.