São Paulo – Em texto publicado no espaço “Políticas e Justiça”, da Folha de S.Paulo, a historiadora Ana Beatriz Ferreira defende o fortalecimento de políticas públicas voltadas às relações étnico-raciais na educação da Amazônia e alerta para a presença do racismo institucional nas escolas da região.
A autora, mestre em história pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e professora da rede municipal de Marabá (PA), afirma que saberes tradicionais amazônicos deveriam orientar propostas curriculares para preservar a ancestralidade dos povos locais. Segundo ela, quando esses conhecimentos são ignorados, rompe-se o vínculo entre educação e pertencimento.
Ferreira menciona relatos de professores que sofrem perseguição ao abordar questões étnico-raciais, além de dificuldades estruturais e manifestações de racismo entre estudantes. De acordo com a professora, o tema costuma aparecer apenas em datas comemorativas.
O texto lembra que as Leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008 incluíram a história e a cultura afro-brasileira e indígena no currículo escolar, mas aponta carências antigas: formação inicial e continuada de docentes em todas as áreas, materiais didáticos representativos, melhoria da infraestrutura e políticas educacionais focadas na equidade.
Dados do Ministério da Educação citados pela autora mostram que 69,3% dos municípios da Região Norte aderiram à Política Nacional de Equidade, Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola (PNEERQ). Mesmo assim, estudantes indígenas e negros ainda não alcançam aprendizagem efetiva, o que Ferreira atribui ao racismo institucional.
Imagem: redir.folha.com.br
Para enfrentar o problema, a historiadora sugere articulação entre governos, conselhos, universidades, movimentos sociais e comunidades tradicionais, criação de câmaras técnicas de monitoramento e ampliação do uso de materiais que valorizem a historiografia regional. Ela defende projetos pedagógicos que envolvam diretamente as comunidades amazônidas e currículos que reflitam a diversidade do território.
O artigo foi escrito no ano da COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas. Ferreira afirma que justiça climática na Amazônia passa necessariamente pelas relações étnico-raciais.
Ao final do texto, a autora indica a música “Manifesto o futuro é ancestral”, de Alok e Célia Xakriabá, como sugestão aos leitores.