Os consumidores americanos estão desembolsando mais para beber café. Dados do índice de preços ao consumidor (CPI) divulgados em agosto pelo Bureau of Labor Statistics indicam alta de 20,9% nos preços da bebida em relação ao mesmo mês de 2023, além de avanço mensal de 3,6%. Trata-se do maior aumento anual desde julho de 2011, quando o indicador marcou 21,2%, e supera a variação de 20,3% registrada em julho de 2022.
Entre as categorias monitoradas, o café torrado teve elevação de 21,7% na comparação anual e 4,1% frente a julho. Já o café solúvel encareceu 20,1% em 12 meses e 4,9% no mês.
Menos de 1% do café consumido nos Estados Unidos é produzido domesticamente. Com capacidade limitada para ampliar a oferta interna, o país depende quase integralmente de importações, hoje pressionadas por problemas climáticos em regiões produtoras e pela cobrança de tarifas.
Levantamento da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) aponta que os preços globais do grão subiram 38,8% em 2024, reflexo de condições climáticas adversas em Vietnã, Indonésia e Brasil. Juntos, Brasil e Vietnã respondem por cerca de metade da produção mundial.
O cenário fica mais tenso com a persistência do tempo seco no Brasil, o que pode reduzir a safra deste ano.
Além dos problemas de oferta, o café importado passou a pagar um imposto de 10% em abril, decisão do governo Trump que atinge todas as compras externas. No fim de julho, a Casa Branca ampliou para 50% a tarifa aplicada especificamente ao produto vindo do Brasil.
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Segundo Scott Lincicome, vice-presidente de economia geral e comércio do Cato Institute, a combinação de oferta restrita e tarifas resulta na sequência de aumentos: “Os preços deram saltos, estabilizaram um pouco e voltaram a subir; esse segundo movimento está ligado ao efeito das tarifas”, afirmou.
Lincicome destacou ainda que a demanda por café é considerada inelástica — ou seja, o consumo muda pouco mesmo quando o preço sobe. “Nesse contexto, produtores globais repassam facilmente os custos adicionais ao consumidor”, explicou.
Em recente ordem executiva, a administração Trump sinalizou que poderia zerar tarifas sobre produtos sem oferta suficiente nos EUA, mas a medida exigiria exceções caso a caso, algo que, segundo o economista, costuma gerar pressões por novos pedidos de isenção em Washington.