São Paulo – Um levantamento da Associação Brasileira de Telesserviços (ABT) aponta que 45% dos trabalhadores formais do setor de atendimento ao cliente eram beneficiários de programas sociais, como o Bolsa Família, no período de janeiro de 2024 a agosto deste ano.
De acordo com a entidade, metade desse grupo deixou de receber o auxílio depois de ingressar no emprego. No Nordeste, a participação de beneficiários nas contratações chega a 55%.
O presidente da ABT, John Anthony von Christian, afirma que os números contrariam a tese de parte do empresariado de que o Bolsa Família desestimula o trabalho formal. “Não dá para culpar o programa pela informalidade”, diz.
Com cerca de 1,4 milhão de empregados, o segmento de telesserviços concentra oportunidades de primeiro emprego, sobretudo no Nordeste. Christian destaca que há cidades de 150 mil habitantes onde o setor absorve entre 10 mil e 15 mil pessoas, sem exigir qualificação prévia. As próprias empresas oferecem treinamento básico, como uso de computador.
O salário inicial varia de R$ 1.600 a R$ 1.800 por jornada de seis horas, o que, segundo o executivo, permite conciliar trabalho e estudos. “Além do salário, há comissão, vale-transporte, alimentação, plano de saúde e convênios com faculdades”, afirma.
Para Christian, a dificuldade de contratar em grandes centros como São Paulo está mais ligada à reorganização do mercado do que ao Bolsa Família. Ele cita o caso de diaristas, que podem ganhar cerca de R$ 200 por dia, trabalhando quatro vezes por semana e recolhendo carnê-leão para aposentadoria.
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Sobre o avanço da inteligência artificial, o presidente da ABT reconhece que a automação tende a crescer, mas diz que, no momento, a tecnologia é usada para apoiar, e não substituir, atendentes.
Ele acompanha em Brasília a elaboração de um decreto da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) que tornará obrigatória, nos Serviços de Atendimento ao Cliente (SAC), a opção de falar diretamente com um atendente humano. Segundo Christian, 83% dos brasileiros preferem essa opção e a medida pode criar mais de 180 mil vagas.
Paulistano, 80 anos, economista formado pela Universidade Mackenzie. Iniciou a carreira na Tecelagem São Caetano, da família, atuou como sócio e diretor da Lara Corretora e Lara DTVM, passou pelo Banco Garantia e dirigiu a TV Bandeirantes.