Brasília – A operação “Carbono Oculto”, deflagrada recentemente para desarticular um esquema de movimentação financeira ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC) no setor de combustíveis, provocou desconfiança sobre a atuação das fintechs. Para Eduardo Lopes, presidente da Zetta – associação que reúne empresas como Nubank e Mercado Pago –, a generalização é injusta e não corresponde à realidade do mercado.
“Vejo pessoas dizendo que as fintechs são a porta de entrada do crime. Não são. Algumas instituições podem ter sido criadas para práticas ilícitas, mas o setor, de forma geral, é sólido, seguro e presta um serviço ao país”, afirmou.
Lopes considera acertada a decisão do Banco Central (BC) de vedar a atuação de instituições de pagamento sem autorização prévia, independentemente do volume transacionado. Segundo ele, a medida contribui para diferenciar empresas idôneas de eventuais organizações montadas para atividades criminosas.
Até então, parte das companhias podia iniciar operações e só solicitar licença após alcançar determinado patamar de volume. O BC reduziu gradualmente esse limite, mas, após a operação policial, antecipou a exigência. “Passados 12 anos, o mercado ficou mais competitivo, complexo e diverso, o que torna natural a recalibragem”, disse o executivo.
A investigação apontou o uso de conta única para movimentar recursos de vários clientes, prática comum em modelos de Bank as a Service. Lopes ressalta que as principais fintechs destinadas ao público geral operam com contas individuais, mas admite que o modelo de conta concentrada permanece “em uma zona cinzenta” e tende a ser revisto.
O dirigente avalia que criar regras é “a parte fácil”; já fiscalizar torna-se mais complexo, sobretudo porque o BC perde funcionários para aposentadoria há mais de uma década. “Houve perda grande de recursos humanos justamente em um momento de transformação do sistema financeiro, com muito mais agentes, e ainda virá a categoria de prestadores de serviços de ativos virtuais”, observou.
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A reação positiva de grandes bancos à operação foi vista por parte do mercado como tentativa de pressionar o BC contra a concorrência das fintechs. Lopes minimiza: “Não importa se é empresa de pagamento ou banco, o tratamento é o mesmo. A diferença está apenas no requerimento de capital”.
Questionado sobre a margem de lucro do Nubank – superior à do Itaú –, ele destacou que o banco digital possui carteira de crédito equivalente a um décimo da do concorrente tradicional. Fintechs, explicou, concentram-se em linhas específicas e atendem principalmente clientes de menor renda, ficando fora dos segmentos corporativo e de atacado dominados pelas grandes instituições.
Hoje, de acordo com o executivo, as fintechs respondem por cerca de 20% do mercado de crédito, enquanto bancos detêm os 80% restantes, fatia que concentra a maior lucratividade do setor.
Nascido em 1982, em São Paulo, Eduardo Lopes é formado em Direito e possui mestrado em Relações Internacionais pela USP. Diplomata de carreira, foi delegado do Brasil na ONU, ingressou na Meta em 2017 e migrou para o Nubank em 2022. Atualmente, preside a Zetta, integra o Conselho da Associação Open Finance Brasil e ocupa a diretoria técnica da Associação Brasileira de Bancos (ABBC).