O recuo do Bitcoin nos últimos dias ganhou um novo catalisador: a deterioração das ações da Strategy (MSTR), maior detentora corporativa da criptomoeda. O papel, considerado por muitos investidores como porta de entrada indireta para o BTC, acumula desvalorização superior a 40% em trinta dias e, na sexta-feira (21), era negociado próximo de US$ 170, baixa de cerca de 4% no dia.
Em relatório divulgado na quinta-feira, o JPMorgan advertiu que a recente queda da Strategy vai além da correlação com o Bitcoin. O banco vê risco de a empresa ser excluída de índices como MSCI USA, MSCI World e Nasdaq 100, decisão que deve ser revelada em 15 de janeiro. O argumento da MSCI é que companhias que alocam caixa em Bitcoin se assemelham mais a fundos do que a negócios operacionais tradicionais.
Segundo o JPMorgan, aproximadamente US$ 9 bilhões dos US$ 59 bilhões de valor de mercado da Strategy estão em veículos passivos que replicam esses benchmarks. A retirada poderia provocar vendas automáticas de até US$ 2,8 bilhões – ou chegar a US$ 8,8 bilhões, caso outros fornecedores adotem a mesma medida. A expectativa é de menor liquidez, dificuldades adicionais de captação e maior volatilidade para o papel.
Diante da preocupação, o fundador Michael Saylor reforçou que a companhia “não é fundo nem trust”. Ele lembrou que a Strategy possui um negócio de software estimado em US$ 500 milhões e utiliza Bitcoin como “capital produtivo”. O executivo também citou a emissão de cinco títulos estruturados para 2025, totalizando US$ 7,7 bilhões, como prova de atuação corporativa ativa.
A crise da Strategy não é o único motivo de pressão. Rony Szuster, head de research do Mercado Bitcoin, aponta que investidores de longo prazo já vinham reduzindo exposição após máximas recentes. Esse movimento foi reforçado por uma única liquidação superior a US$ 1 bilhão realizada por uma “baleia”, elevando a percepção de risco entre participantes de varejo.
O ambiente macroeconômico também pesou. Nas últimas semanas, aumentou o temor de que o Federal Reserve adie o primeiro corte de juros, intensificando a aversão a risco e alimentando liquidações de posições alavancadas. Na sexta, a probabilidade de afrouxamento em dezembro subiu de 39% para mais de 70%, ajudando a conter, mas não reverter, a queda do Bitcoin.
Imagem: infomoney.com.br
O JPMorgan calcula que, somente em novembro, ETFs spot de Bitcoin e Ethereum registraram resgates de cerca de US$ 4 bilhões, superando os fluxos negativos de fevereiro e março, até então recordes. Enquanto isso, ETFs de ações continuaram recebendo aportes, sinal de que o varejo reduziu risco de forma seletiva justamente nos produtos mais ligados à criptoeconomia.
Para Ana de Mattos, analista técnica e parceira da Ripio, há alguma demanda compradora tentando equilibrar o Bitcoin, mas as resistências principais permanecem distantes, em US$ 88.000 e US$ 100.000. Se a pressão vendedora persistir, o ativo pode revisitar US$ 80.000 e US$ 79.000.
No Ethereum, a mínima recente foi de US$ 2.663. A força vendedora segue dominante, com suportes entre US$ 2.550 e US$ 2.400; resistências aparecem em US$ 2.870 e US$ 3.260.
Enquanto o mercado aguarda a decisão da MSCI, a volatilidade tende a continuar elevada tanto para a Strategy quanto para o Bitcoin.