Uma investigação publicada na Review of Economics Studies revela que o formato da ajuda governamental — dinheiro ou cesta básica — interfere de maneira diferente nos preços praticados em comunidades vulneráveis.
No experimento, vilarejos mexicanos foram escolhidos aleatoriamente para receber duas modalidades de benefício: caixas de alimentos entregues por caminhão ou transferências em dinheiro de valor equivalente. A distribuição de cestas provocou queda média de 4% nos preços, enquanto o repasse em dinheiro gerou aumento de preços estatisticamente insignificante.
A repercussão variou conforme o grau de desenvolvimento local. Nas localidades economicamente mais estruturadas, o poder de compra das famílias praticamente não se alterou. Já nas aldeias menos desenvolvidas, a redução de preços alcançou magnitude superior, o que significou acréscimo equivalente a 14% da renda dos consumidores — efeito que não apareceu nos pagamentos em espécie.
Os autores interpretam que a transferência em dinheiro tende a favorecer produtores de alimentos, ao passo que a entrega direta de cestas beneficia primordialmente os consumidores. Para formuladores de políticas públicas, a escolha entre repassar recursos ou fornecer gêneros alimentícios envolve consequências distintas para preços e bem-estar, especialmente em áreas isoladas, onde a oferta de produtos pode ser limitada.
Imagem: redir.folha.com.br
Apesar de positiva para quem compra, a queda de preços decorrente da doação de alimentos pode reduzir a renda de produtores locais, impacto que precisa ser considerado na formulação de programas sociais. Quando há escassez no abastecimento, contudo, a alternativa de transferência de renda perde eficácia.