Após mais de dez anos de compras maciças de títulos públicos, os principais bancos centrais aceleram o movimento de aperto quantitativo (quantitative tightening – QT), encerrando o ciclo que manteve artificialmente baixos os juros de longo prazo e barateou o endividamento de governos.
Em artigo recente, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos defendeu que o Federal Reserve reduza de forma consistente o tamanho de seu balanço para restabelecer o funcionamento normal dos mercados e limitar a dependência entre políticas fiscal e monetária.
Levantamento “The Demand for Government Debt” (BIS, 2023) mostra que, entre 2000 e 2022, Federal Reserve (Fed), Banco Central Europeu (ECB), Banco do Japão (BoJ) e Banco da Inglaterra (BoE) passaram de participantes marginais a detentores de cerca de dois terços de toda a dívida pública mundial. A fatia de cada instituição é a seguinte:
Essa intervenção comprimiu o term premium — prêmio exigido pelos investidores para manter títulos longos — a níveis mínimos históricos, favorecendo o financiamento governamental.
Com a reversão dos programas de compra de ativos, a precificação do risco de duração volta ao setor privado, composto por bancos, fundos e seguradoras. Essas instituições operam com restrições de balanço e exigem maior compensação, resultando em prêmios de prazo positivos, curvas mais inclinadas e maior volatilidade nas taxas longas.
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O processo ocorre enquanto as economias avançadas mantêm dívidas em patamares elevados: cerca de 120% do PIB nos Estados Unidos, 90% na zona do euro, 100% no Reino Unido e mais de 230% no Japão. Nesse ambiente, o custo marginal de emitir dívida volta a ser determinante para a sustentabilidade fiscal.
Fatores adicionais limitam o apetite por papéis de longo prazo:
Durante anos, o quantitative easing (QE) atuou como anestesia ao absorver títulos em larga escala, suavizando o impacto dos déficits sobre as taxas de juros e criando a impressão de que o custo da dívida era estruturalmente baixo. Com o QT, o risco volta a ter preço e a credibilidade fiscal reassume papel central na determinação das taxas de longo prazo.