Um estudo da organização China Labor Watch (CLW) indica que trabalhadores da maior fábrica de iPhones do mundo, operada pela Foxconn em Zhengzhou, continuam submetidos a longas jornadas, atraso de salários e discriminação contra minorias étnicas e mulheres grávidas.
Segundo o documento, divulgado nesta quinta-feira, mais da metade dos mais de 200 mil empregados contratados para o pico de produção do modelo mais recente do iPhone são temporários. A legislação chinesa autoriza que apenas 10% da força de trabalho tenha esse vínculo.
A investigação de seis meses — que incluiu o envio de funcionários infiltrados e mais de 100 entrevistas — apurou que os temporários recebem parte do pagamento de forma escalonada, prática que, de acordo com a CLW, visa desencorajar demissões durante períodos de maior demanda.
Esses colaboradores também ficam sem direitos concedidos aos efetivos, como licença médica remunerada, férias pagas e cobertura de seguro social que engloba assistência médica e contribuição para aposentadoria.
O relatório relata ainda que o sistema de recrutamento utilizado por agências parceiras da Foxconn rejeita currículos de candidatos uigures, tibetanos ou huis que não residem na província de Henan. Fontes ouvidas pela CLW apontam “temor de tensões” com trabalhadores da etnia han como motivo da triagem automática.
Até este mês, mulheres eram submetidas a radiografias obrigatórias durante exames de saúde, procedimento que, segundo a entidade, afastava grávidas dos processos seletivos.
Em nota, a Foxconn declarou ser “empregadora que oferece igualdade de oportunidades” e afirmou não tolerar discriminação, destacando auditorias independentes realizadas nos últimos dois anos. A empresa reconheceu em 2019 que o percentual elevado de temporários destoava de suas próprias diretrizes.
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A Apple informou ter equipes “no local” e iniciado investigação imediata após receber o dossiê da CLW. A fabricante disse manter “compromisso firme com os mais altos padrões de trabalho, direitos humanos, meio ambiente e ética”.
Trabalhadores ouvidos pelo Financial Times relataram que, apesar das falhas, consideram as condições melhores do que em outras fábricas da região, citando ar-condicionado, água quente, áreas de lazer e subsídio para refeição.
A desaceleração econômica da China e o aumento do desemprego entre jovens têm reduzido as alternativas de emprego. Uma ex-professora de 23 anos afirmou ter passado dois meses na linha de montagem da Foxconn e não descarta voltar caso não encontre vaga em sua área de formação.
A Foxconn utiliza contratos temporários para ajustar o quadro a oscilações de demanda e para atender à estratégia da Apple de diversificar a produção fora da China. A meta interna da Apple é montar, até o próximo ano, todos os iPhones destinados ao mercado norte-americano na Índia, movimento impulsionado pelas tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos chineses.
Na pesquisa atual, a CLW não localizou trabalhadores menores de idade — problema apontado pela entidade em 2019 — e registrou leve redução na média de horas extras.