A dependência dos Estados Unidos de ingredientes farmacêuticos produzidos na China coloca em risco o abastecimento de remédios no país e pode ser atenuada por meio de “friend-shoring” com nações signatárias dos Acordos de Abraão, segundo relatório divulgado pela U.S. Israel Education Association (USIEA).
O estudo afirma que 41% dos Key Sourcing Materials (KSMs) utilizados em princípios ativos aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) têm fonte exclusiva na China. Além disso, Pequim é o único fornecedor de pelo menos um KSM para 679 princípios ativos, o que representa 37% do total utilizado nos EUA.
Peter Pitts, ex-comissário associado da FDA e hoje pesquisador sênior da USIEA, lembrou que mais de 90% dos medicamentos consumidos em território norte-americano — em volume — são genéricos fabricados majoritariamente na China e na Índia. “Se a China decidisse, por razões políticas, interromper o envio, ficaríamos sem produtos essenciais para salvar vidas”, disse.
O documento cita o fechamento, em 2022, de uma fábrica próxima a Xangai responsável por quase todo o contraste usado em exames de imagem nos EUA. A paralisação, provocada por um lockdown da Covid-19, reduziu drasticamente procedimentos como angiogramas e tomografias. Outro episódio lembrado ocorreu em 2008, quando um anticoagulante de baixa qualidade fabricado na China provocou 81 mortes e feriu gravemente 785 pessoas.
Segundo a USIEA, a fiscalização da FDA em território chinês é limitada, pois as inspeções precisam ser anunciadas com antecedência, o que permite que informações sejam alteradas e áreas críticas fiquem fora do alcance dos inspetores.
Como solução, o relatório sugere a criação de um “Escritório da FDA para os Acordos de Abraão”, concebido como missão regulatória regional com três objetivos: segurança econômica, saúde pública e liderança diplomática. A unidade funcionaria como extensão avançada da agência, permitindo diversificar a produção de medicamentos essenciais em países considerados confiáveis — Israel, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Marrocos — sem abrir mão do chamado “padrão ouro” de fiscalização da FDA.
Imagem: Rachel Wolf FOXBusiness via foxbusiness.com
A proposta já consta do projeto de lei bipartidário H.R.1262, “Mikaela Naylon Give Kids a Chance Act”, apresentado em fevereiro pelo deputado Michael McCaul, republicano do Texas, e aprovado pela Câmara dos Representantes. Pelo texto, o novo escritório não concederá registros de medicamentos; atuará como coordenador entre a FDA e fabricantes nos países parceiros.
EJ Kimball, diretor de Política e Operações Estratégicas da USIEA, declarou que Israel e Emirados Árabes Unidos dispõem de capacidade avançada de pesquisa e produção farmacêutica e estão prontos para atender a demanda dos EUA. Ele alertou ainda que a China tenta ampliar sua presença no Oriente Médio, inclusive no Marrocos, país que sinalizou interesse em aprofundar a cooperação com Washington.
Para a USIEA, transferir parte da cadeia de suprimentos a aliados é “ato de soberania”, pois interrupções podem ameaçar a estabilidade nacional tanto quanto riscos militares.