A decisão do Banco Central de manter a Selic em 15% ao ano, anunciada na quarta-feira (5), mantém a renda fixa como principal refúgio dos investidores. Mesmo assim, gestores observam um “momento de transição” que já exige mudanças nas carteiras, ante a perspectiva de início do ciclo de cortes de juros no começo de 2026, quando a taxa básica pode encerrar o ano em 12,25%.
Andressa Bergamo, especialista em investimentos e sócia-fundadora da AVG Capital, afirma que o foco do investidor deixa de ser apenas o patamar elevado dos juros e passa a considerar o ambiente de redução gradual previsto para os próximos anos.
Em meio a esse cenário, papéis indexados ao IPCA, públicos ou privados, são apontados como os mais vantajosos. Victor Furtado, head de alocação da W1 Capital, destaca a proteção contra a inflação e o bom desempenho desses ativos quando a Selic começa a cair.
Na quinta-feira (6), o Tesouro IPCA+ 2029 oferecia retorno real de 8,04%, enquanto o vencimento em 2060 pagava IPCA + 7,17%. As taxas elevadas, somadas à volatilidade típica de anos eleitorais e ao cenário externo, sustentam a preferência de Guilherme Almeida, head de renda fixa da Suno Research, por essa classe de ativos. Furtado acrescenta que prefere vencimentos mais longos para “pegar mais ciclos de inflação” mesmo que a taxa seja ligeiramente menor.
Os títulos pós-fixados, atrelados à Selic ou ao CDI, continuam recomendados. “O Tesouro Selic entrega retorno real elevado com risco praticamente nulo”, observa Bergamo.
Já os prefixados começam a chamar atenção conforme o mercado antecipa o início dos cortes de juros. Mesmo assim, Beto Saadia, economista-chefe da Nomos, recomenda cautela diante de incertezas fiscais e eleitorais que podem aumentar a volatilidade dos juros futuros. Almeida, da Suno, também evita prefixados longos: “A curva pode mudar muito por questões fiscais, e o momento não é dos mais saudáveis nesse aspecto”.
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Debêntures, CRIs, CRAs e outros papéis corporativos perderam parte do apelo frente aos títulos públicos, de acordo com Saadia. A forte demanda permitiu às empresas emitir dívidas com prêmios cada vez menores, comprimindo os spreads. “Os spreads do setor privado não acompanharam a alta dos títulos públicos, reduzindo o prêmio de risco adicional”, afirma o economista, que prefere atualmente os papéis do Tesouro Direto.
Almeida reforça a mesma visão: o ganho extra no crédito privado vem acompanhado de risco maior, sobretudo após um longo período de política monetária restritiva que afeta a capacidade de pagamento das companhias.
Para quem optar pelo crédito privado, especialistas recomendam análise detalhada do emissor. Almeida sugere evitar empresas de setores cíclicos, como varejo, e lembra que as debêntures incentivadas podem ser boas alternativas — desde que o investidor avalie cuidadosamente cada emissão.
Com o juro elevado, mas à porta de um futuro ciclo de cortes, a orientação dos gestores é clara: a renda fixa continua atrativa, porém a alocação deve ser revista para capturar oportunidades em títulos indexados à inflação e, com cautela, em prefixados de prazo mais curto, mantendo crédito privado apenas como instrumento de diversificação.