Michael Viriato, assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor, chama a atenção para um erro recorrente entre pequenos empresários: reinvestir integralmente os lucros no negócio e negligenciar a formação de patrimônio pessoal.
O consultor compara o comportamento ao de um agricultor que guarda todas as sementes para plantar e mantém a despensa vazia. Segundo ele, a prática gera crescimento do CNPJ, mas deixa o dono sem reservas financeiras.
Viriato relata o caso de uma leitora cuja empresa precisa de R$ 300 mil. Ela cogitava contrair empréstimo bancário a 25% ao ano para preservar suas economias, temendo não conseguir poupar para a aposentadoria. O especialista avalia que a decisão adequada é empregar o próprio dinheiro, desde que o aporte seja registrado como dívida da empresa para com o sócio.
Ao classificar o aporte como empréstimo, explica Viriato, o empresário passa a enxergar o custo do capital e a exigir rentabilidade suficiente para remunerar quem financia o negócio. A medida também evita distorções quando há outros sócios ou executivos remunerados por bônus, pois deixa claro quem efetivamente sustenta a operação.
Sem esse controle, o caixa pessoal pode ser drenado gradualmente até que todo o patrimônio fique concentrado na empresa. Viriato lembra que muitos empreendedores contam com a venda futura do negócio para enfim acessar recursos, estratégia considerada arriscada porque depende de um evento de liquidez incerto.
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Para o especialista, a disciplina de registrar aportes como empréstimos e devolvê-los ao proprietário, ainda que de forma parcelada, é essencial para construir reserva financeira fora da firma e garantir independência no longo prazo.
Citando Warren Buffett — “não poupe o que sobra depois de gastar, gaste o que sobra depois de poupar” —, Viriato conclui que prosperidade empresarial não garante segurança pessoal se os bolsos do dono e da companhia permanecerem misturados.