O grupo hong-konguês Chow Tai Fook (CTF), controlador do hotel Rosewood São Paulo — único seis estrelas do país — aprovou nova redução da fatia do empresário francês Alexandre Allard no empreendimento. A participação, que já havia caído de 35% para 20% em abril, pode agora encolher para 15%.
Conselheiros da BM Empreendimentos (BME), sociedade responsável pelo complexo Cidade Matarazzo onde o hotel está instalado, relataram que representantes de Allard se opuseram à decisão e pretendem questioná-la em um processo arbitral em Miami (EUA).
Na mesma reunião, o CTF autorizou a BME a acionar a operadora do Rosewood para cobrar de Allard cerca de R$ 2 milhões referentes a despesas pessoais acumuladas nos últimos três anos. O empresário hospeda-se num tríplex cuja diária chega a R$ 250 mil e, segundo ele, gera receita superior à do hotel Fasano em São Paulo.
Quase 80% do valor decorre de refeições nos restaurantes do próprio hotel para o empresário, familiares e convidados. Há ainda lançamentos no bar, lavanderia e spa. Pela regra interna, todo hóspede deve apresentar cartão de crédito no check-in, exigência que, segundo a administração, não foi cumprida por Allard apesar de reiterados avisos. A partir de agora, os pontos de consumo do hotel foram instruídos a não atendê-lo sem garantia de pagamento.
O contrato societário prevê ainda um teto de R$ 300 mil mensais em despesas reembolsáveis a sócios, desde que acompanhadas de comprovantes detalhados, condição que não teria sido observada.
A cobrança intensifica o embate entre os controladores do Cidade Matarazzo e o empresário francês. Recentemente, a BME acionou judicialmente a incorporadora Gafisa, acusando-a de usar elementos gráficos do complexo em um novo projeto chamado Allard Oscar Freire, nos Jardins. A Gafisa respondeu que mantém parceria com Allard e que o empreendimento difere daquele operado pela BME.
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Em abril, Allard já havia perdido parte de sua participação por não aportar sua quota — R$ 100 milhões — num empréstimo concedido pelo CTF para concluir as obras durante a pandemia. A nova diluição decorre de atraso no pagamento da parcela remanescente.
Para honrar dívidas, o empresário contratou financiamento de R$ 350 milhões junto ao banco Master, oferecendo ações do hotel como garantia. Caso o empréstimo não seja quitado, o banco pode não dispor de garantias suficientes para executar a cobrança. Allard afirmou na ocasião ter organizado o reembolso, mas o Master não comentou.
Procurados, Allard, BME e CTF não se pronunciaram.