O Ibovespa pode avançar, em média, 24% até o fim de 2025 caso a economia dos Estados Unidos contenha a inflação sem entrar em recessão – movimento conhecido no mercado como “pouso suave”. A estimativa é da área de pesquisas do Santander Brasil, que analisou o comportamento do principal índice da B3 diante dos ciclos de corte de juros norte-americanos nos últimos 30 anos.
Segundo o estudo, nos seis meses seguintes ao primeiro corte promovido pelo Federal Reserve (Fed), o índice brasileiro tende a se valorizar mais quando não há recessão nos EUA. Se a atividade norte-americana acabar mergulhando em um período prolongado de contração, o potencial de ganho do Ibovespa cai para cerca de 4% no mesmo intervalo.
A chefe de pesquisa e estratégia de ações do banco, Aline Cardoso, afirma que o “pouso suave” é hoje o cenário central da instituição, apoiado na robustez dos indicadores econômicos americanos e numa desaceleração ordenada do mercado de trabalho.
No Brasil, a equipe de macroeconomia do Santander projeta o início dos cortes na Selic em janeiro de 2026 e taxa básica em 13% ao fim desse mesmo ano – redução de dois pontos percentuais. As apostas de mercado, porém, indicam um afrouxamento mais intenso, sugerindo que a taxa terminal pode ficar num ponto intermediário entre as duas visões.
Cardoso compara o cenário atual ao de 2019, um dos poucos momentos em que os ciclos de afrouxamento monetário nos EUA e no Brasil ocorreram simultaneamente. Naquele ano, o Ibovespa subiu 12% e o índice de small caps 28% nos seis meses seguintes ao primeiro corte do Fed, desempenho interrompido posteriormente pela pandemia de covid-19.
O Fed iniciou o atual ciclo de redução de juros em setembro de 2025 e sinalizou pelo menos mais três cortes: dois ainda este ano, em novembro e dezembro, e outro em 2026. Se a previsão de início do corte da Selic se confirmar no primeiro trimestre de 2026, os ciclos monetários dos dois países tendem a ficar desencontrados.
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Cardoso lembra que a composição do comitê do banco central americano mudará em 2026, com a saída do presidente Jerome Powell em maio e a indicação de um novo diretor pelo ex-presidente Donald Trump, o que pode reforçar um perfil mais “dovish” (favorável a juros mais baixos).
No caso de descasamento entre os ciclos, o Santander aponta maior potencial para ações de imobiliário, varejo, transportes e utilities. Bancos e companhias ligadas a commodities tenderiam a ter desempenho mais modesto, reduzindo o impulso do próprio Ibovespa por causa do peso desses setores no índice.
Se o movimento de cortes nos EUA e no Brasil ocorrer de forma simultânea, o levantamento indica um resultado contraintuitivo: empresas exportadoras de commodities podem liderar os ganhos. A justificativa é que, com a referência norte-americana em queda, outros bancos centrais também ganham espaço para reduzir juros, o que melhora a perspectiva de atividade global e sustenta os preços das commodities.
Ainda assim, o otimismo do Santander com esse segmento é moderado. O desempenho do minério de ferro depende do ritmo da economia chinesa, enquanto o petróleo parece ter encontrado um piso, sem catalisadores claros de alta no curto prazo. Já as companhias de papel e celulose são vistas como a melhor aposta da casa, pois não há expectativa de entrada de nova oferta dessa commodity nos próximos dois anos.