Duas das maiores lojas virtuais de jogos para computadores, Steam e Itch.io, removeram recentemente centenas de títulos com conteúdo sexual depois de receberem ameaças de empresas de cartão de crédito e outros processadores de pagamento.
No dia 16 de julho, a Steam alterou suas políticas e passou a vetar obras que “possam violar regras e normas definidas pelos processadores de pagamento”, mencionando “determinados tipos de conteúdos voltados exclusivamente ao público adulto”. Logo depois, o site independente SteamDB registrou a exclusão de dezenas de games pornográficos, em sua maioria produções que pareciam retratar incesto. Os critérios de seleção não foram esclarecidos.
Em comunicado ao portal GamingOnLinux, a Valve, controladora da plataforma, afirmou que a medida foi necessária porque operadoras de pagamento ameaçaram interromper o processamento de compras. “A perda dos métodos de pagamento impediria os clientes de adquirirem outros títulos e conteúdos”, declarou a empresa.
Antes da mudança, a Steam já proibia imagens reais de nudez explícita, conteúdo adulto sem classificação etária, jogos com material ilegal, exploração de crianças ou discurso de ódio.
Na quarta-feira, 23 de julho, a Itch.io removeu da busca todos os jogos marcados como “NSFW” (não seguro para o trabalho). Os títulos continuam acessíveis apenas por links diretos e estão passando por uma “auditoria” para confirmar se obedecem às exigências dos processadores de pagamento. Quem não se adequar será excluído.
“Nossa capacidade de processar pagamentos é essencial para todos os criadores na plataforma”, explicou o fundador Leaf Corcoran em nota. “Precisamos priorizar o relacionamento com nossos parceiros e agir imediatamente.”
O movimento contra jogos pornográficos começou após a ONG australiana Collective Shout enviar, em 11 de julho, uma carta aberta a CEOs de operadoras de cartão denunciando a presença, nas duas lojas, de “centenas de títulos contendo estupro, incesto e abuso sexual infantil”. A gerente de campanhas da entidade, Caitlin Roper, disse à revista Wired ter identificado mais de 500 jogos com estupro ou incesto, alguns com “tortura sexual extrema e abuso de mulheres”, mas não detalhou a metodologia usada.
Entre as obras removidas por engano está “Consume Me”, premiado na GDC deste ano por destacar mulheres e pessoas de gêneros marginalizados em posições-chave. O jogo não aparece mais nas buscas da Itch.io.
Imagem: redir.folha.com.br
Seus criadores, Jenny Jiao Hsia e AP Thomson, declararam à Wired considerar “inaceitável que processadores de pagamento adotem censura por decreto, impedindo sistematicamente que autores de conteúdo adulto sejam remunerados”. Eles também alertam que grupos conservadores costumam rotular qualquer conteúdo LGBTQIA+ como adulto por definição.
As remoções reacenderam o debate sobre censura e evidenciaram a dificuldade das plataformas em enfrentar pressões de movimentos conservadores e de intermediários financeiros.
Gaucho and the Grassland (PC) – Lançado pela Epopeia Games, o título coloca o jogador no papel de um fazendeiro gaúcho que precisa reconstruir a propriedade após a morte do pai, encontrando lendas do folclore brasileiro como Boitatá e Negrinho do Pastoreio. O jornalista recebeu cópia para teste.
Com as plataformas sujeitas à influência de intermediários financeiros e de grupos de pressão, desenvolvedores independentes temem novos cortes e maior restrição a conteúdos considerados sensíveis.
Com informações de Folha de S.Paulo