Entra em vigor nesta sexta-feira (1º) a sobretaxa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre bens brasileiros. A medida é a mais severa entre as definidas por Washington para agosto e pode reduzir bilhões de dólares em vendas externas do Brasil aos EUA.
Entre todas as novas cobranças anunciadas por Trump, a aplicada ao Brasil é a maior, com alíquota de 50%. O republicano justificou a decisão dizendo que o país integra um grupo com o qual os EUA “não têm se dado bem”.
Petróleo, produtos de ferro ou aço, café, carne bovina, aviões e suco de laranja são hoje os itens mais vendidos pelos brasileiros aos americanos, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) calcula que o agronegócio pode perder US$ 5,8 bilhões em embarques caso a tarifa seja mantida.
Cinco indústrias enviam aos EUA mais da metade de tudo o que exportam. Juntas, faturaram US$ 4 bilhões no ano passado. O segmento de materiais de construção — pedras, gesso, cimento, amianto e mica — aparece como o mais vulnerável na atual disputa comercial.
Entre as unidades da federação, o Ceará tem 44,9% de suas vendas externas direcionadas aos Estados Unidos, principalmente ferro fundido e aço, o que o coloca na linha de frente dos impactos regionais.
Apesar de Trump alegar prejuízo nas trocas com o Brasil, os dados mostram superávit constante dos EUA desde 2008. Em carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o norte-americano classificou os saldos negativos como “insustentáveis” e disse que a sobretaxa compensaria barreiras impostas a produtos dos EUA.
De janeiro a junho de 2025, os Estados Unidos ficaram em terceiro no ranking de maiores exportadores para o mercado brasileiro, posição normalmente ocupada pela segunda colocação histórica.
Componentes para aviões — partes de turborreatores ou turbopropulsores, além de motores acima de 25 kN — são os itens mais comprados pelo Brasil nos EUA. Gás natural liquefeito, petróleo bruto, óleo diesel, naftas petroquímicas e carvão betuminoso completam a lista, segundo o Mdic.
Levantamento da Organização Mundial do Comércio (OMC) indica que, em 2024, bens americanos pagaram tarifa efetiva média de 5,5% para entrar no Brasil — a segunda menor entre os dez maiores exportadores ao país e abaixo da média mundial de 9,3%. O sentido inverso registrou 2,8%.
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Estudo do BTG Pactual revela que 86,4% das importações feitas pelo Brasil enfrentam exigências como certificações, licenças prévias, padrões sanitários e cotas, enquanto a média global é de 72%. Essa proteção pode ser alvo de futuras investigações comerciais americanas.
Desde 2 de abril, data marcada nos EUA como Dia da Libertação, o governo oscilou entre ameaças e recuos. O Budget Lab da Universidade Yale calcula que a tarifa média americana se estabilizou em 17,3%.
Às vésperas da implantação das sobretaxas, Washington firmou entendimentos com Reino Unido, China, Vietnã, Indonésia, Filipinas, Japão e União Europeia. O Brasil não foi contemplado.
Ao priorizar a guerra comercial em seu segundo mandato, Trump elevou a tarifa global média dos EUA a 17,3%, o maior patamar desde antes da Segunda Guerra Mundial, segundo a Universidade Yale.
Com a tarifa de 50% já publicada, empresas brasileiras avaliam estratégias para redirecionar exportações ou absorver parte do custo extra, enquanto o governo estuda possíveis retaliações ou negociações.
Com informações de Folha de S.Paulo