Restaurantes indianos que vinham se multiplicando em Nova York enfrentam uma alta repentina de custos desde 27 de agosto, quando o governo Donald Trump elevou para 50% as tarifas sobre a maior parte dos produtos importados da Índia.
O aumento tributário, que ainda aguarda julgamento na Suprema Corte, atinge itens indispensáveis à culinária indiana — como arroz basmati, especiarias, chás e leguminosas — e comprime margens já estreitas no setor de alimentação.
Salil Mehta, chef e proprietário do grupo Fungi Hospitality, conta que um saco de 18 quilos de arroz basmati passou de US$ 30 (R$ 160) para US$ 45 (R$ 240). O pacote de 500 gramas de pimenta vermelha em pó saltou de US$ 7 (R$ 37) para US$ 10,50 (R$ 56).
“Mesmo acrescentando cerca de US$ 5 (R$ 26) aos pratos principais e alguns dólares nas entradas, ainda não cobrimos o novo custo”, afirma o chef. Ele lembra que clientes pagam com naturalidade US$ 35 (R$ 186) por um prato italiano, mas costumam esperar preços menores quando se trata de comida indiana.
No Lungi, no Upper East Side, o chef Albin Vincent calcula que arroz, lentilhas e temperos como gengibre e garam masala ficaram cerca de 25% mais caros. “Se subirmos muito os preços, perdemos quem é sensível a reajustes”, diz. As dosas seguem entre US$ 20 (R$ 106) e US$ 26 (R$ 138) e os biryanis abaixo de US$ 28 (R$ 149), mas, segundo ele, torna-se “cada vez mais difícil manter autenticidade e qualidade”.
Maneesh Goyal, dono do recém-inaugurado Passerine, no Flatiron District, viu o saco de lentilhas arhar subir de US$ 62 (R$ 330) para US$ 82 (R$ 437). Já uma caixa de ghee pulou de US$ 150 (R$ 800) para US$ 220 (R$ 1.173). “Como abrimos há pouco tempo, não temos espaço para repassar tudo ao consumidor”, relata.
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Alguns empresários tentam absorver a alta. Mohammad Tarique Khan, do Hyderabadi Zaiqa, paga hoje US$ 69 (R$ 368) por um saco de 11 quilos de arroz — antes custava US$ 45 (R$ 240). As lentilhas foram de US$ 3 (R$ 16) para US$ 4,50 (R$ 24) por libra, mas ele mantém os preços porque atende estudantes e trabalhadores da vizinhança. “A solução é trabalhar mais horas e evitar contratações”, explica.
O impacto atinge ainda quem produz alimentos fora do circuito de restaurantes. Kartik Das, fundador da marca Doosra, que fabrica snacks de grão-de-bico com chocolate, diz que a volatilidade dos preços afugentou importadores. “Precisei mudar de fornecedor; ninguém quer o risco de estoque parado”, comenta. Produtos como pó de manga seca (amchur) e até embalagens sofrem com a instabilidade.
Em Richmond, Virgínia, Keya Wingfield, criadora da Keyas Snacks, recebeu tarifa de US$ 1.700 (R$ 9.000) sobre um lote de 90 quilos de especiarias — um custo que antes “era quase inexistente”. “O dinheiro destinado a marketing e distribuição agora vai para tarifas”, diz. “E não há substituto para especiarias indianas.”
Para muitos chefs, o momento é de resistência. “As margens ficam cada vez menores”, resume Mehta. “O mercado deve se ajustar, mas apenas os mais fortes vão permanecer.”