As tarifas médias cobradas pelos Estados Unidos sobre produtos importados subiram para 17,3%, o nível mais alto desde 1935, segundo cálculo do Budget Lab da Universidade Yale. O patamar reflete a agenda protecionista adotada pelo presidente Donald Trump em seu segundo mandato, iniciada em janeiro.
O novo percentual inclui o acordo fechado no último fim de semana com a União Europeia, que, apesar de conceder alívio parcial ao bloco, mantém a carga tributária acima dos 17% vistos há nove décadas, quando aumentos previstos pela Lei Smoot-Hawley elevaram barreiras comerciais durante a Grande Depressão.
Desde que reassumiu a Casa Branca, Trump aplicou tarifas elevadas a quase 45% de todas as importações americanas. De forma paralela, negociou entendimentos limitados ou ofereceu concessões a países que representam cerca de 60% das compras externas afetadas pelos chamados “impostos recíprocos”, reduzindo parcialmente o impacto inicial.
Além da UE, receberam concessões Reino Unido, Indonésia, Filipinas, Japão e Vietnã. Mesmo assim, as economias contempladas continuam sujeitas a tributações superiores às vigentes antes de 2025. México e Canadá permanecem sob regime tarifário separado, justificado por Washington como medida de combate ao tráfico de fentanil e de reforço à segurança de fronteira.
A condução da política comercial tem sido marcada por mudanças de rumo. Em abril, depois de forte queda nas Bolsas e nos títulos do Tesouro, Trump suspendeu temporariamente as tarifas mais altas. O presidente também estabeleceu uma trégua de 90 dias para fechar até 90 acordos; por ora, foram concluídos sete (seis países mais o bloco europeu).
Trump ameaça restaurar integralmente as tarifas recíprocas a partir de 1º de agosto para nações que não firmarem acordo até lá, o que pode elevar ainda mais o índice médio.
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Para Eswar Prasad, professor de economia da Universidade Cornell, os EUA iniciaram “uma nova era de protecionismo” com potencial de reconfigurar o comércio mundial. Alan Wolff, pesquisador do Peterson Institute, avalia que as mudanças forçarão empresas a ajustar cadeias de suprimentos, procurando mercados com acesso menos oneroso.
O mercado financeiro reagiu inicialmente com otimismo aos acordos parciais. Bolsas dos EUA, da Europa e do Japão renovaram recordes recentes, mas analistas veem riscos. Gerry Fowler, chefe de estratégia de ações europeias do UBS, afirma que o alívio pode ceder espaço à preocupação com o impacto dos 15% acertados com a UE sobre os lucros corporativos nos próximos meses.
Enquanto isso, o dólar segue cerca de 10% abaixo do valor registrado no início do ano em relação a uma cesta de moedas, apesar de leve recuperação após os anúncios mais recentes.
Com informações de Folha de S.Paulo