O Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) prepara uma relação de itens agroalimentares que o país não consegue produzir em quantidade suficiente e que têm peso direto na inflação doméstica, segundo analistas do setor. A proposta é aplicar tarifas inferiores ao teto atualmente imposto a exportadores estrangeiros.
Entre os produtos apontados estão café, frutas tropicais, frutos do mar, suco e óleo de palma. Caso o modelo seja confirmado, o Brasil – fornecedor relevante de vários desses itens – pode ampliar vendas ao mercado norte-americano. A decisão final, porém, depende do presidente Donald Trump, cuja postura política vem travando avanços nas negociações com Brasília.
Embora a carne bovina não figure na relação do USTR, a presença do produto brasileiro continua estratégica para os EUA na tentativa de controlar a inflação dos alimentos. Os norte-americanos contam também com a recente reabertura do mercado australiano para a carne dos Estados Unidos, suspensa desde o caso de vaca louca.
Apesar da retomada das vendas aos australianos, a oferta interna de gado nos EUA permanece limitada. Dados divulgados este mês pelo Departamento de Agricultura (USDA) mostram rebanho de 94,2 milhões de cabeças, abaixo do registrado em 2024. O número de animais em confinamento caiu para 13 milhões, e 28,7 milhões do total são vacas leiteiras.
Para 2025, o USDA projeta queda de 1% na produção de carne bovina, para 11,9 milhões de toneladas. O consumo per capita deve permanecer em 27 kg neste ano e recuar para 26 kg em 2026, levando parte da demanda a migrar para carnes suína e de aves.
Com menor oferta interna, as importações de carne bovina dos EUA devem subir a 2,44 milhões de toneladas equivalentes carcaça em 2025, enquanto as exportações tendem a recuar para 1,24 milhão. Em maio, as compras externas totalizaram 250 mil toneladas, alta de 60% sobre o mesmo mês de 2024. De janeiro a maio, o Brasil respondeu por 27% desse volume, participação superior aos 17% registrados em 2024.
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O avanço dos preços da carne impulsionou a inflação dos alimentos em junho, que ficou 3% acima da verificada um ano antes. Projeções do USDA apontam alta de 9% no custo da proteína bovina para o consumidor norte-americano em 2025. No mês passado, a carne moída estava 10,3% mais cara do que em junho de 2024, enquanto o bife subiu 12,4%.
Produtores dos EUA também acompanham com preocupação as tarifas impostas pelo próprio governo a parceiros comerciais, medida que pode dificultar a venda da safra 2025/26. A estimativa é colher 399 milhões de toneladas de milho, 6% a mais que no ciclo anterior, com 70 milhões destinadas à exportação. Já a produção de soja deve recuar 0,7%, para 118 milhões de toneladas, das quais 48 milhões devem ser embarcadas.
Com informações de Folha de S.Paulo