Disputas comerciais, sanções e controles de exportação em diferentes setores indicam crescente fragmentação das cadeias produtivas internacionais, segundo relatos de empresas e dados de comércio divulgados recentemente.
Montadoras instaladas no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos informaram que podem suspender linhas de montagem por falta de semicondutores simples. O problema decorre de um impasse entre Holanda e China. Os componentes são iniciados em uma fábrica chinesa situada em território holandês e finalizados na China, país que decide sobre a liberação das remessas. Fontes do setor atribuem eventuais pressões ao conflito comercial entre Pequim e Washington.
As vendas de ímãs de terras raras da China aos Estados Unidos recuaram 28,7% de agosto para setembro deste ano e 30% em relação a setembro de 2024. As restrições impostas por Pequim afetam insumos fundamentais para equipamentos de alta tecnologia e uso militar.
Novas medidas adotadas por Washington contra petroleiras russas, em resposta à guerra na Ucrânia, devem reduzir temporariamente o fornecimento global de petróleo. A cotação do barril já registra alta. As sanções podem interferir também no fluxo de vendas da Rússia para a Índia, que vinha absorvendo cerca de 40% das exportações russas mesmo diante da tarifa norte-americana de 50%. Petróleo e gás representam perto de 30% da arrecadação do governo russo.
A corrida por máscaras, luvas e seringas no início da Covid-19, em 2020, quando países europeus e os Estados Unidos chegaram a desviar cargas aéreas, expôs vulnerabilidades de abastecimento. Posteriormente, o congelamento de ativos russos por Estados Unidos e União Europeia levou vários governos a reavaliar o volume de reservas mantidas em dólares ou em sistemas de pagamento controlados por Washington.
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A participação da China na corrente de comércio brasileira (soma de exportações e importações) passou de 2,8% em 2001 para 27% na atualidade, modificando o perfil econômico do país e exigindo maior equilíbrio nas relações com diferentes blocos internacionais.
Termos como “nearshoring”, “reshoring”, “desacoplamento” e “fragmentação” tornaram-se frequentes no debate econômico, refletindo a busca de governos e empresas por mais segurança no fornecimento, mesmo ao custo de menor eficiência.