A perspectiva de uma das maiores transferências de riqueza da história – estimada em US$ 124 trilhões até 2048 nos Estados Unidos e em cerca de US$ 9 trilhões na América Latina – tende a ampliar a atuação filantrópica de famílias de alta renda, indica a pesquisa inédita “Filantropia & Family Offices: Perspectivas e Oportunidades”. O estudo foi apresentado no Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), em São Paulo, pelos consultores Juliana de Paula e Cássio Aoqui.
Dados da Anbima mostram que o número de estruturas formais de family office no Brasil cresceu 82,5 % entre 2020 e 2023, passando de 80 para 146, com R$ 457 bilhões sob gestão. O levantamento ouviu 83 representantes de 70 family offices (single e multi) e 23 famílias de altíssima renda, totalizando 106 entrevistas.
Entre os Single Family Offices (SFOs), 85 % atendem famílias com patrimônio acima de R$ 1 bilhão. Nos Multi Family Offices (MFOs), 6 % das famílias ultrapassam esse valor e 11 % concentram de R$ 500 milhões a R$ 1 bilhão.
A maioria das famílias pesquisadas (71 %) já mantém fundação, instituto ou endowment próprios. Entre os SFOs, 52 % tratam a filantropia de forma estruturada, e 63 % de seus clientes possuem organização própria. Nos MFOs, 47 % só abordam o tema quando o cliente solicita e 31 % ainda não atuam nessa frente; 70 % dessas gestoras atendem mais de 31 famílias.
Os montantes anuais variam: 30 % das famílias destinam entre R$ 1 milhão e R$ 5 milhões, enquanto 25 % superam R$ 10 milhões em doações.
Nos MFOs, 47 % dos gestores apontam a nova geração e 25 % as mulheres como principais impulsionadoras da pauta filantrópica. O protagonismo de herdeiras como Teresa Bracher, Mariana Feffer e Beatriz Johannpeter exemplifica essa mudança cultural.
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Segundo o UBS Global Family Office Report 2024, de 40 % a 45 % dos 320 SFOs pesquisados em 30 países – somando US$ 600 bilhões em ativos – já incorporam critérios de sustentabilidade ou investimento de impacto em seus portfólios.
Para o secretário-executivo do Gife, Cássio França, o engajamento dessas famílias é fundamental para reduzir desigualdades no país. O censo da entidade indica que o investimento social privado alcançou R$ 5,8 bilhões em 2024, avanço que ainda pode crescer com a mobilização do capital gerido pelos family offices.
A pesquisa destaca a necessidade de qualificação dos profissionais dos family offices em mensuração de impacto e estruturação de produtos financeiros de impacto, apontada por Mariana Feffer, fundadora do Regeneration Group e idealizadora da Generation Pledge, rede que já se comprometeu com US$ 840 milhões em doações.
A expectativa é que a combinação de transferência patrimonial sem precedentes, crescimento dos family offices e protagonismo de mulheres e jovens herdeiros amplie o fluxo de recursos privados destinados a causas socioambientais nas próximas décadas.