WASHINGTON – A Casa Branca de Donald Trump acelera a construção de data centers por considerá-los vitais para a segurança nacional, mas, ao mesmo tempo, impõe barreiras a novas usinas solares e eólicas. Especialistas alertam que o choque entre as duas políticas pode frear a corrida pela inteligência artificial (IA) e pressionar ainda mais as contas de luz.
A explosão de aplicações de IA vem elevando o consumo de eletricidade em ritmo superior ao planejamento tradicional das concessionárias. Para não ficar para trás, empresas como Meta e Google têm instalado data centers provisórios em tendas e assinado contratos para erguer suas próprias usinas.
Dados da Cleanview.co mostram que quase 80% da capacidade de geração em fase de estudo nos EUA está ligada a fontes renováveis, enquanto gás natural e nuclear respondem por apenas 14%.
“Nos próximos dez anos não há nada que substitua as renováveis”, afirma Robert Whaley, diretor para a América do Norte da consultoria Wood Mackenzie.
Analistas veem um potencial desgaste eleitoral: se os data centers impulsionados pelo governo forem associados a aumentos na tarifa, Trump pode enfrentar reações de consumidores e empresas.
Fontes firmes como o gás natural continuam essenciais para garantir fornecimento 24 horas. A Meta, por exemplo, utiliza o combustível em seu gigantesco complexo na Louisiana. Ainda assim, projetos a gás compõem só 13% da nova capacidade prevista para a próxima década – gargalos na produção de turbinas, concentrada em três fabricantes, já comprometem as entregas até meados de 2030.
O porta-voz presidencial Taylor Rogers defende a expansão de gás, carvão e nuclear, classificando a energia eólica offshore como “intermitente e pouco confiável”. Ele argumenta que subsídios do Inflation Reduction Act distorceram o mercado ao privilegiar solar e eólica.
Estudo da Lazard aponta que a eletricidade de uma usina a carvão recém-construída custaria ao menos US$ 71 por megawatt-hora, contra cerca de US$ 38 para solar ou eólica. Além disso, parques solares e eólicos costumam ser licenciados e concluídos em menos de cinco anos; alguns ficam prontos em apenas 18 meses.
Já projetos a gás levam de três anos e meio a cinco anos e enfrentam atrasos na cadeia de suprimentos. Pequenos reatores nucleares, mesmo com aprovação acelerada e US$ 80 bilhões em incentivos federais, não devem entrar em operação antes do fim da década.
Mais de 90% das 5.700 usinas em desenvolvimento são solares, eólicas ou de baterias, segundo a Cleanview.co. Parte delas, como o complexo solar Esmeralda Seven, encontra resistência regulatória desde que a análise ambiental foi cancelada em outubro.
Imagem: redir.folha.com.br
A Solar Energy Industries Association calcula que mais da metade desses projetos ainda carece de licenças definitivas, o que os coloca em risco.
“Há muito teatro nisso tudo”, diz Michael Thomas, fundador da Cleanview.co. “Os projetos continuam sendo aprovados e construídos.”
Em 5 de novembro, Andrés Gluski, presidente da AES Corp., disse a investidores que data centers seguem demandando energia limpa: “Neste e no próximo ano, cerca de 90% da nova oferta deve vir de renováveis e baterias”.
Meta, Microsoft, Amazon e Google contrataram 9,6 GW em energia limpa no primeiro semestre de 2025 – volume suficiente para abastecer 7,2 milhões de residências.
Mesmo após a “big beautiful bill” de Trump extinguir subsídios verdes, a Wood Mackenzie reduziu em apenas 8% sua estimativa para novas usinas renováveis. A consultoria projeta que concessionárias dos EUA acrescentarão 666 GW em solar, eólica e armazenamento até 2034, contra 126 GW em gás.
Entre janeiro e setembro de 2025, fontes verdes representaram 89% da capacidade elétrica adicionada no país, segundo a Administração de Informação de Energia.
“O movimento Maga precisa manter a base empolgada”, diz Whaley. “Mas, nos bastidores, haverá concessões – ninguém quer perder a corrida da IA para a China.”