O governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decidiu nesta quinta-feira (23) quadruplicar a cota de importação com tarifa reduzida para carne bovina da Argentina, elevando o limite anual de 20 mil para 80 mil toneladas. A medida, adotada para conter a escalada dos preços da carne nos supermercados, desagradou criadores norte-americanos.
Segundo um assessor da Casa Branca, o aumento da cota busca aliviar o custo pago pelos consumidores em meio à combinação de escassez de gado e demanda elevada. Nos últimos meses, o preço da carne bovina nos EUA bateu recordes, pressionado por um rebanho menor e por despesas maiores com alimentação do gado após períodos de seca.
Na véspera, o Departamento de Agricultura (USDA) divulgou um programa para expandir o rebanho e apoiar produtores locais. Em entrevista ao “Mornings with Maria”, da Fox Business Network, a secretária de Agricultura, Brooke Rollins, afirmou que o governo tenta “equilibrar o apoio a consumidores e pecuaristas”.
A iniciativa provocou indignação entre criadores, base eleitoral de Trump. Para Justin Tupper, presidente da Associação dos Pecuaristas dos Estados Unidos (USCA), o acordo “mina os alicerces da indústria pecuária” do país. Além da nova cota, produtores reclamam de um pacto cambial de US$ 20 bilhões firmado com a Argentina, que coincidiu com perda de mercado para a soja americana na China.
Economistas estimam que o aumento das compras externas terá efeito modesto no curto prazo. O rebanho americano está no menor patamar em décadas, e parte da carne argentina — mais magra — costuma ser misturada à produção doméstica na fabricação de hambúrgueres. Em 2024, os EUA importaram cerca de 33 mil toneladas de carne bovina argentina, equivalente a 2% do total importado.
Para redes de alimentação e indústrias de processamento, a ampliação da cota pode aumentar margens de lucro, mas o repasse ao consumidor tende a ser limitado, avaliam especialistas.
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Miguel Schiariti, presidente da Câmara da Indústria da Carne da Argentina (Ciccra), disse à Reuters que as exportações incluem cortes tradicionais e carne magra usada em hambúrgueres para reduzir teor de gordura. “É uma boa notícia para o setor”, afirmou, destacando a reputação do produto argentino no mercado norte-americano.
O líder da maioria no Senado, John Thune (republicano de Dakota do Sul), declarou que está “acompanhando de perto” a política da Casa Branca e já dialoga com o USDA e o representante comercial dos EUA sobre o tema. No mesmo sentido, o deputado Adrian Smith (republicano de Nebraska) alertou que decisões que distorçam o mercado interno “ameaçam a segurança alimentar”.
A porta-voz da Casa Branca, Anna Kelly, reiterou que Trump segue comprometido em proteger os criadores e oferecer alívio econômico à população.