Washington – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta segunda-feira (29) decreto que impõe tarifa de 10% sobre madeira bruta e madeira serrada e de 25% sobre armários de cozinha, gabinetes de banheiro e móveis estofados.
As cobranças, justificadas pelo governo norte-americano como medida de segurança nacional amparada na Seção 232 da Lei de Comércio de 1974, começam a valer às 1h01 de 14 de outubro (horário de Brasília). A partir de 1º de janeiro, as alíquotas subirão para 30% no caso de produtos de madeira estofados e para 50% em armários de cozinha e gabinetes de banheiro provenientes de países que não fecharem acordo com Washington.
O Canadá, principal exportador de madeira de coníferas aos EUA, deve ser o maior afetado. O setor já enfrenta tarifas combinadas antidumping e antisubsídio de cerca de 35% em razão de disputa antiga sobre extração em terras públicas canadenses. O governo de Ottawa anunciou pacote de até US$ 870 milhões para apoiar produtores locais.
México e Vietnã vêm ganhando espaço no fornecimento de móveis aos EUA desde 2018, quando Trump estabeleceu tarifas de até 25% sobre produtos chineses — hoje próximas de 55% e que podem quase dobrar com as novas medidas.
Alguns parceiros comerciais receberam limites menores: produtos de madeira do Reino Unido terão tarifa máxima de 10%, enquanto União Europeia e Japão enfrentarão teto de 15%, conforme condições dos respectivos acordos de referência. O documento não citou o compromisso firmado em julho com o Vietnã para tarifa de 20%, ainda não formalizado.
Segundo a Casa Branca, o aumento das importações de madeira tem provocado fechamento de serrarias, interrupções em cadeias de suprimento e queda na utilização da capacidade doméstica. O governo alega que, nessa situação, a indústria nacional poderia não suprir demandas “cruciais para a defesa nacional e para a infraestrutura crítica”.
O texto presidencial menciona o uso de madeira em construções militares, armazenamento de materiais, transporte de munições, componentes de sistemas antimísseis e proteção térmica de veículos de reentrada nuclear.
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Em abril, quando o Departamento de Comércio abriu investigação sobre as importações do setor, a Câmara de Comércio dos EUA manifestou oposição, afirmando que as restrições não representam risco à segurança nacional e elevariam custos para empresas e para a construção de moradias.
No Brasil, onde cerca de 90% da produção madeireira se concentra no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, o setor já sente os efeitos do “tarifaço” anunciado por Trump em julho. Entre 9 de julho e 15 de setembro, aproximadamente 4.000 trabalhadores foram demitidos, de acordo com a Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente).
Os Estados Unidos absorviam em média metade das exportações brasileiras de madeira. Após a entrada em vigor, em agosto, de tarifa de 50% sobre produtos nacionais, as vendas externas recuaram de 35% a 50% em volume, segundo a entidade. A indústria emprega cerca de 180 mil pessoas formalmente no país.
As novas tarifas americanas integram o primeiro pacote de três setores que, segundo Trump, receberão sobretaxas; os próximos incluem medicamentos patenteados e caminhões pesados.