UE adia assinatura de acordo e gera anticlímax na cúpula do Mercosul em Foz do Iguaçu

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A decisão da União Europeia de postergar a assinatura do acordo comercial com o Mercosul, inicialmente marcada para sábado, 20 de dezembro de 2025, abalou os preparativos da cúpula do bloco sul-americano em Foz do Iguaçu (PR) e frustrou o governo brasileiro.

Diplomatas de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai já se encontravam na cidade fronteiriça organizando a reunião de chefes de Estado quando, na quinta-feira (18), foi confirmado o adiamento. Durante encontro preparatório, chegou a ser sugerida uma breve pausa para digerir a notícia, mas os trabalhos prosseguiram em meio ao vai-e-vem de delegações pelos corredores.

Auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) classificaram a mudança de planos como contrariante, porém não definitiva, indicando expectativa de que o tratado possa ser firmado em janeiro de 2026. Ainda assim, o revés acontece às vésperas da transferência da presidência rotativa do Mercosul, hoje com o Brasil, para o Paraguai, e retira de Lula a chance de apresentar a assinatura como trunfo internacional em ano eleitoral.

Salvaguardas contestadas permanecem em aberto

Para evitar novo impasse, o Mercosul optou por não reagir publicamente às salvaguardas aprovadas pelos europeus, mesmo considerando-as desfavoráveis. Pelo mecanismo, uma investigação será aberta caso o preço de produtos sensíveis originários do bloco – como carne bovina e açúcar – caia mais de 8% em relação à média dos três anos anteriores ou se o volume importado crescer acima de 8% no mesmo período.

Segundo o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, eventuais ajustes a esse pacote seriam discutidos somente após a assinatura do tratado.

Pressões internas na Europa

Nos bastidores, integrantes do governo brasileiro atribuem o adiamento a dificuldades políticas dentro da União Europeia. A França, sob forte pressão de agricultores, lidera a oposição ao acordo e obteve apoio da Itália pouco antes da decisão final do Conselho Europeu.

Uma conversa telefônica entre Lula e a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, foi apontada como decisiva. Meloni pediu um mês para convencer produtores rurais italianos a aceitar o pacto; Lula concordou em levar a solicitação aos demais presidentes sul-americanos. Para diplomatas em Bruxelas, o gesto sinalizou disposição do Brasil em conceder mais tempo, apesar de o próprio Lula ter ameaçado arquivar o texto caso houvesse novo atraso.

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Imagem: redir.folha.com.br

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também discutiu o tema com o presidente francês, Emmanuel Macron, e defendeu prazo adicional aos europeus.

Viagem cancelada

Horas após essas conversas, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, comunicou aos líderes do bloco que o tratado não seria mais assinado no Brasil. Ela e o presidente do Conselho Europeu, António Costa, cancelaram a ida a Foz do Iguaçu.

Repercussão

Para Marcos Troyjo, secretário de Comércio Exterior quando o texto-base foi fechado em 2019, a postergação reduz as chances de parceria em um momento em que a Europa se vê “espremida” pela disputa entre Estados Unidos e China. Na avaliação do ex-negociador, o recuo representa “grande derrota” para o bloco europeu e complica também os países do Mercosul.

Com o cronograma indefinido, diplomatas sul-americanos aguardam agora novo sinal de Bruxelas para retomar o processo e tentar concluir, após mais de 25 anos de tratativas, o acordo de livre-comércio entre os dois blocos.

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