Belém – sexta-feira, 7
Dezenove nações formalizaram nesta sexta-feira (7) o Consenso de Belém, compromisso que mira multiplicar por quatro a produção global de combustíveis sustentáveis, entre eles os biocombustíveis, até 2035. O anúncio foi feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a cúpula de líderes que antecipa a COP30, realizada na capital paraense.
A União Europeia optou por não aderir ao acordo, decisão considerada estratégica pelos negociadores brasileiros. O bloco mantém as regulamentações ambientais mais rígidas do planeta e já determinou emissões líquidas zero no transporte rodoviário a partir de 2035. Internamente, porém, persiste a resistência ao uso de culturas alimentares — como cana, soja, milho e palma — na produção de energia, sob o argumento de risco de desmatamento e de ameaça à segurança alimentar.
Durante a sessão da cúpula dedicada à transição energética, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, concentrou-se em metas de expansão da eletricidade renovável, sem mencionar biocombustíveis. Bruxelas defende a eletrificação de veículos e processos industriais e aposta no hidrogênio verde para setores de difícil eletrificação.
Assinaram o Consenso de Belém:
Armênia, Belarus, Brasil, Canadá, Chile, Guatemala, Guiné, Índia, Itália, Japão, Maldivas, México, Moçambique, Mianmar, Países Baixos, Panamá, Coreia do Norte, Sudão e Zâmbia.
Imagem: redir.folha.com.br
Diplomatas brasileiros afirmam que o número inicial de adesões era esperado e deve crescer ao longo dos próximos meses, repetindo a trajetória de outros acordos climáticos.
O pleito brasileiro apoia-se em relatório divulgado em outubro pela Agência Internacional de Energia (AIE). O documento indica que, se todas as políticas anunciadas forem implementadas, a oferta de combustíveis sustentáveis poderá quadruplicar até 2035 em comparação a 2024. Para isso, a agência recomenda eliminar barreiras de mercado, adotar metas compatíveis com a realidade de cada país, garantir previsibilidade de demanda e desenvolver métodos transparentes de contabilização de carbono — ponto defendido por Brasília para destacar a baixa pegada de carbono dos biocombustíveis nacionais.
Representantes das europeias Engie e Iberdrola participaram da sessão e declararam apoio ao acordo. O presidente do conselho da Engie, Jean-Pierre Clamadieu, afirmou que a eletrificação é fundamental, mas insuficiente para todos os segmentos, citando transportes marítimo e aéreo. Ele manifestou expectativa de que a União Europeia ingresse no compromisso após análise detalhada.
Embora favorável ao pacto, a Engie não produz biocombustíveis de origem agrícola, alinhando-se à postura predominante no bloco europeu.