O vale de Tarija, no sul da Bolívia, concentra a principal produção de vinhos do país em vinhedos instalados a cerca de 2.500 metros acima do nível do mar. A região, de 36 mil km², cultiva uvas há mais de quatro séculos e recebe aproximadamente 300 mil visitantes por ano, 20% deles estrangeiros, sobretudo argentinos, segundo a Secretaria Municipal de Turismo e Cultura.
Quem desembarca no aeroporto de Tarija pode agendar excursões que percorrem cinco vinícolas em cinco horas. O passeio custa 100 bolivianos (R$ 78) e destaca o clima local, marcado por abundante luz solar e baixa precipitação. As propriedades dividem espaço com vegetação densa, áreas desérticas, lagos e montanhas onde vivem pumas e alpacas, cenário comparado à província argentina de Salta.
Entre as castas tintas cultivadas estão cabernet, malbec, merlot e tannat; entre as brancas, riesling e chardonnay. Segundo a produtora Lisbeth Gutiérrez, da Bodega Vinoteca, o objetivo é colocar a Bolívia no roteiro internacional do vinho. Já Victoria Quiroga, da vinícola colonial Casa Vieja, afirma que os rótulos locais se destacam pelo dulçor e pela intensidade.
Tradicional nas degustações, o singani — aguardente feita de uva moscatel — costuma ser servido como chuflay, mistura com refrigerante de gengibre e gelo, mas também pode ser apreciado puro.
A Bolívia produz cerca de 16 milhões de litros de vinho por ano e importa volume seis vezes maior. O Brasil responde por 5% dessas compras. Já as principais destinos das exportações bolivianas são França (31%), Luxemburgo (29%) e Estados Unidos (18%).
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Nas vinícolas de Tarija, garrafas partem de R$ 40, valor inferior ao praticado nas lojas do centro da cidade. No Brasil, os rótulos ainda são raros, mas o empório Casa Montalegre, em São Paulo, trabalha desde 2018 com três fornecedores tarijeños: Aranjuez, Kohlberg e La Concepción. Os preços variam de R$ 88 a R$ 680.
Entre as opções disponíveis estão o tinto Pioneiro Bonarda Aranjuez (R$ 200), com aromas de frutas vermelhas e acidez pronunciada, e o branco La Concepcion Moscatel Alejandria (R$ 107), de perfil mais adocicado. Para o sócio-proprietário João Negreiro, as uvas malbec, cabernet franc e tannat de Tarija competem em qualidade com rótulos argentinos e uruguaios, embora o mercado brasileiro ainda demonstre certa resistência.
Casa Montalegre — Avenida Marcondes de Brito, 1.484, Vila Matilde, zona leste de São Paulo. Vendas on-line em casamontalegre.com.br